Imagino que por conveniência política, diz-se sempre que cunhado não é parente. De fato, assumir genericamente parentesco com cunhados é algo muito perigoso. Em primeiro lugar por que não dá para escolher o cunhado. Há um risco enorme nesta acolhida. Mas se a gente tem que aceitar cunhados de forma compulsória, os amigos se pode escolher e nada impede que seja um cunhado. Nestes casos, o parentesco pode ser admitido.
Eu particularmente tenho a sorte de ter um cunhado, na realidade concunhado, do qual me tornei amigo. Isto não é exatamente mérito meu, pois além dele não poder fugir, ele é como a Geni da música: dá pra qualquer um. É muito fácil ser amigo dele. Se não é mérito pelo menos é uma grande sorte. Ele é daquelas pessoas com quem sempre se pode contar. Está sempre pronto para fazer uma macarronada. Se precisar costurar um dedo, ele também não se nega. É praticante de inúmeros passatempos e habilidades.
Com o passar do tempo, aconteceu com ele um fenómeno curioso. Embora eu continue nos quarenta já há alguns anos, ele, mais rápido (ele é mesmo bem agitadinho e ligeirinho) chegou esta semana aos cinquenta anos (com trema como convém a um senhor) chegando assim à metade desta vida. Há quem diga que ninguém nota, tal a sua vitalidade, fruto de anos de exercícios. Mas há também quem diga que ele está fazendo o que, na família, é chamado de ceniradas. Foi pego em flagrante recentemente.
Considerando que no dia do aniversário eu liguei para ele e atendeu a maldita secretária eletrónica (coisa de cunhado), não me resta outra opção do que enviar de público o meu abraço.
Para quem já aproveitou vinte anos de sua amizade, desejar mais cinquenta soa muito interesseiro, mas não dá para abrir mão deste direito adquirido.