Usina de Letras
Usina de Letras
145 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62239 )

Cartas ( 21334)

Contos (13264)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10368)

Erótico (13570)

Frases (50636)

Humor (20031)

Infantil (5436)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140810)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6194)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Fragrância Feminina na Poesia - Lina de Villar -- 08/02/2003 - 10:23 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fragrância Feminina na Poesia





Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.

Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.

É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar essências a partir da publicação destes textos



Lina de Villar





Evangelina Moniz de Aragão de Góes Araújo que usava o pseudônimo de Lina de Villar nasceu em Salvador no dia 14 de setembro de 1897.

Lina era filha de Egas Moniz Barreto de Aragão e de Maria Elisa de Lacerda Moniz de Aragão.

Lina de Villar iniciou sua trajetória literária aos 12 anos de idade, quando escreveu seus primeiros versos. De família tradicional baiana, a referida escritora conviveu com a intelectualidade local, visto que seu pai era um conhecido escritor.

Escreveu alguns contos, dedicando-se também a pintura.

Casou-se em 1920 com o advogado Armando Góes de Araújo.

Ao lermos a obra de Lina de Villar, percebemos a natural cumplicidade da autora com a palavra. Os elementos da natureza estão sempre ao alcance de suas mãos, adjetivados por uma percepção lírica da existência e do próprio universo. A escritora oferece ao leitor em tons e cores, a dimensão do seu sentir através da espontaneidade com que rende a palavra a sua própria emoção, como se pode constatar em alguns versos do poema “Na Barra”:

“O mar e o céu confundem-se num beijo”, “Vagas soluçam pela areia branca”.

Lina de Villar faleceu em 04 de agosto de 1927.









Bibliografia da Escritora



Colaborou nos seguintes periódicos:

A Paladina do Lar; Noel



Livro publicado:

Poesias. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia. 1997

(traços bibliográficos por Antônio Paulo de Góes Araújo)









Um pouco da poesia de Lina de Villar:



Tarde de Outono



O sol fraco que lembra uma rosa vermelha

Parece tiritar na mortalha gelada

Que envolve de cinza e de névoa esgarçada

Onde a luz de dilui nuns tons de prata velha

Caem zumbindo como as asas de uma abelha

Folhas mortas no chão... Ao longe abandonada

Uma árvore esguia à beira de uma estrada

Impassível no lago opalino se espelha...

Ligeira a brisa passa a penumbra rasgando

Um grande beijo frio e agreste simulando

Beijo que refrigera, enleva e delicia

Outono! Eu te comparo a um longo sonho triste

Que as almas acorrenta e ao qual ninguém

Resiste.

Sonho feito de bruma e melancolia...





Na Barra





Que encanto! Que esplendor! Que poesia

Sopra a brisa n’um doce rumorejo

Enquanto n’uma dulcida harmonia

O mar e o céu confundem-se n’um beijo.

O oceano despótico, arquejante

Dos rochedos o dono altivo espanca,

Coroadas d’espumas flutuantes

Vagas soluçam pela areia branca.

O manto azul do céu empalidece

A noite merencória, aos poucos desce

E morre à tarde, plácida sombra

Muito além, no poente ensangüentado,

De bambinellas d’oiro e luz franjando,

Mergulha o sol nas vascas da agonia







Miragem





Noite estival, noite serena a beira mar!

Há beijos pelo ar...

Açucena ideal de neve ou de alabastro

No ébano da noite a lua deixa um rastro...

E do silêncio a dolorosa sinfonia,

Plange evocando

A tristeza presente e as venturas passadas

E abre os corações chagas cicatrizadas.

Ressuscitando

O fantasma cruel que é a melancolia

Debruço-me a janela

A asa luzidia de uma vela

Desliza lentamente

Sobre o estranho esplendor das águas opalinas...

E um outro barco só com os panos arriados

Lembra um inseto preguiçosamente

Erguendo para o céu suas antenas finas

Ao longe a beira

Da praia enorme enluarada e fria

Uma palmeira

Tem a esbelteza hierática, imponente

De uma antiga fidalga de legenda

Num trono de marfim sob um doce de renda

Estranhamente esguia...

E me parece ver subi de vez em quando

Dentre o lençol da bruma

Que se vai a pouco e pouco adelgada

Um vulto solitário

Roçando a espuma

Com a brancura espectral de seus longos sudários.

Silêncio tumular

Silêncio...Noite muda, não me assombre

Quero te contemplar

E contemplar as grandes vagas alvadias

Porque assim tem minha alma em certos dias

Este ondular fantástico de Sombras...







Saudades





Era tarde.

Num recanto florido e sombreado cantavam

alegremente os passarinhos.

Como um brilhante fio de prata viva

Serpeava um límpido regato, rolando sobre

pedrinhas, alvíssimas formava pequenas

cascatas

Galhos e raízes secas atravessavam-no

como minúsculas pontes. O firmamento estava

azul... mas de um azul tão claro...

De repente rompendo a ramagem esmeraldina

apareceu uma linda virgem. Tinha os olhos cor de saphira e os cachos

de oiro tremiam entre o seu pescoço brando e

roliço

As faces acetinadas tinham a frescura

de um botão de rosa ...

..................................................................

Olhou em torno de si indiferente a tudo que

a cercava ...

Sentou-se sobre uma pedra

do caminho ...

A natureza sorria... e ela chorava ...

... Desigualdade das coisas humanas ...

A donzela soluçava e suas lágrimas deslizando

no cetim do seu rosto iam perdendo-se entre a

relva pura e cristalina como se fossem os mais

custos brilhantes do colar de uma rainha que

alguma mão caprichosa desatasse o fio ...

Súbito ... oh! milagre! brotaram da terra inúmeras

florzinhas brancas e roxas.

As primeiras traduzem a candura, d’aquela

alma jovem, as segundas eram como a cruel mágoa

que lhe atravessava o coração ...

..................................................................

Uma legião de espíritos divinos passou por

ali, colhendo braçadas das graciosas florzinhas

foram oferecê-las ao senhor em

..................................................................

mística prece...................

..................................................................

..................................................................

As cândidas avezinhas no topo das

arvores continuavam a cantar e o eco ao longe

repetia no morno silêncio da tarde.

Do pranto aljofarado de uma virgem

nasceram as saudades ...







Passarinho

A Dudu





Vem cá querida Stellita

Eu tenho, aqui no jardim

Uma rolinha catita

Desse tamanhinho ...assim ...

Encontrei-a na figueira

Com um milho no biquinho

Quando viu-me mui ligeira

Voou para o lindo ninho

“Oh! Lúcia larga a rolinha

Não sejas má minha irmã

A inocente avezinha

Está tão triste! Amanhã

Não cantará com certeza

Com saudades de seu ninho

Vê como é uma beleza

Este pobre passarinho!

Ele vai morrer irmãzinha

Se o prenderes. Meu amor

Deixa esta linda avezinha

Ir voar de flor em flor ...”

Alice abriu a mãozinha

A rola fugiu então

E a gentil pequenita

Agradecia a irmãzinha

A proveitosa lição





Versos às Rosas Brancas





1

Rosas de leite rosas de neve

Funéreas rosas imaculadas

Tendes a inércia dolente e leve

De Virgens loiras amortalhadas

2

Flocos de tule esfarrapado.

Gaze cetim, rendas frouxéis

Restos de um traje de noivado

Que alguém rasgou nos vergéis

3

Auréolas vivas rutilando!

Migalhas claras de algum astro

Flocos de espumas transbordando

De estranho vasos alabastrinos

4

Eu sinto em vós planger magoada

Do miserere a angústia infrene

A mesma angústia macerada

Dos versos tristes de Verlaine

5

A mesma dor que anda nos sinos

Cujos soluços nos comovem

Tremular dos violinos

No Claire de Lune de Beethoven

6

A mesma paz da água dormente,

De quietas pálpebras cerradas.

Chorando o pranto opalescente,

O pranto azul das alvoradas.

7

A mesma alma luzidia

De asas exumes de querubim

A Virgem Mãe Santa Maria

Devia ter as mãos assim ...

8

Oh! grossas lágrimas geladas

Que a noite do jardim verteu!

Ressuscitais coisas passadas

Que a gente pensa que esqueceu.

9

Tendes a palidez doentia

De mãos que vão morrer em prece

Com o fervor que nada esfria

E uma algidez que nada aquece

10

Tendo o alvor da musselina

E a languidez de quem se entrega

Rosas que um beijo contamina

Que um roçar de asa desagrega.

11

Há como vós almas na vida

Deste candor ideal dos círios

Desta brancura indefinida

Rosas que mais parecem, lírios ...

11*

Almas de arminho e claridade

Rosas que um sopro faz manchas

É negra, é negra a tempestade

E sois tão fáceis de manchar ...

12

Se Deus vos deu a cor dos luares

Vós fez tão frágeis e tão puras

Foi para a sombra dos altares

Pra solidão das sepulturas



*número 11 repetido no original







Ao Mar



Ó Mar! Gosto de ti de te sentir bem perto

Muito perto de mim, gosto de teus lamentos

Da tua fúria, do seu riso claro e aberto

De teu choro infeliz cheio de desalentos.



Não me canso de olhar-te ... É uma coisa tão boa

Viver a beira mar na minha idade

Essa ventura imensa me atordoa

Canto a aleluia da felicidade.



Saio pela manhã e à tarde ... Horas a fio

Quedo-me a ouvir-te a voz tristonha e langue

E assim n’um flavo por do sol de estio

Em vez de espuma, as tuas ondas vertem sangue.



Sangue! No mar, no céu. Dupla rosa encarnada

De contrates brutais de florações ardentes

Quem diria que o mar e o céu de madrugada

Eram duas turmalinas transparentes?



E as rochas negras onde estou sentada

Lembram carvões dispersos de um braseiro

E a voz do mar recorda a voz magoada

De alguém que andou chorando o dia inteiro.



A voz do mar lembra a de um doente que ressona

Exausto de uma dor no paroxismo

O’ Mar! Se o teu azul impressiona

A tua voz atrai como um abismo.



Ouvindo-a sinto a graça sinto o encanto

Das sereias de sonho e de mistério ...

A tua voz é linda ó mar, no entanto

É ela que me lembra com o seu canto

Que não és mais que um grande cemitério.



E quando levo sob as palmas dos coqueiros

Olhando as ondas desenroladas

Penso no fim cruel de tantas vidas

Nas cantigas exumes dos marinheiros

Em tantas noivas sós desventuradas ...

..................................................................

Que tristeza nas barcas recolhidas!

Que alegria nas velas desfraldadas!

..................................................................

Ai quanta gente já mataste! És um selvagem

Tens remorsos talvez quando choras assim

Essa tortura se reflete na paisagem

E a paisagem vai se refletir em mim ...



Apesar disto adoro-te os gemidos

Fogem para longe os pesadelos

Quando as ondas salpicam-me os vestidos

Quando a brisa desmancha-me os cabelos.



Esta angústia feroz que tu não sondas

Lutas debalde porque m’a revelas

Na palpitação verde das ondas

E na palpitação branca das velas.



E até me vem ao pensamento, às vezes

Que me entendes tão bem quanto te entendo

Que adivinhas o que sinto e que não digo

Alegrias, tristezas e revezes ...

..................................................................

O’ velho Mar! Como eu te compreendo!

E és afinal o meu melhor amigo.

Tudo aquilo que eu busco, tudo, tudo,

Vou encontra o’Mar quando de fito

E ao fitar-te, esqueces a vida, esqueço tudo ...

..................................................................

Nossa alma é como tu um segredo infinito!

Miraculoso templo!

És sempre grande, és sempre forte, és sempre o mesmo

Mas, entretanto, cada vez que te contemplo

Te encontro diferente de ti mesmo ...



© Fernanda Guimarães

Em 09.01.2003

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui