Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.
Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.
É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar essências a partir da publicação destes textos
Lina de Villar
Evangelina Moniz de Aragão de Góes Araújo que usava o pseudônimo de Lina de Villar nasceu em Salvador no dia 14 de setembro de 1897.
Lina era filha de Egas Moniz Barreto de Aragão e de Maria Elisa de Lacerda Moniz de Aragão.
Lina de Villar iniciou sua trajetória literária aos 12 anos de idade, quando escreveu seus primeiros versos. De família tradicional baiana, a referida escritora conviveu com a intelectualidade local, visto que seu pai era um conhecido escritor.
Escreveu alguns contos, dedicando-se também a pintura.
Casou-se em 1920 com o advogado Armando Góes de Araújo.
Ao lermos a obra de Lina de Villar, percebemos a natural cumplicidade da autora com a palavra. Os elementos da natureza estão sempre ao alcance de suas mãos, adjetivados por uma percepção lírica da existência e do próprio universo. A escritora oferece ao leitor em tons e cores, a dimensão do seu sentir através da espontaneidade com que rende a palavra a sua própria emoção, como se pode constatar em alguns versos do poema “Na Barra”:
“O mar e o céu confundem-se num beijo”, “Vagas soluçam pela areia branca”.
Lina de Villar faleceu em 04 de agosto de 1927.
Bibliografia da Escritora
Colaborou nos seguintes periódicos:
A Paladina do Lar; Noel
Livro publicado:
Poesias. Salvador: Empresa Gráfica da Bahia. 1997
(traços bibliográficos por Antônio Paulo de Góes Araújo)
Um pouco da poesia de Lina de Villar:
Tarde de Outono
O sol fraco que lembra uma rosa vermelha
Parece tiritar na mortalha gelada
Que envolve de cinza e de névoa esgarçada
Onde a luz de dilui nuns tons de prata velha
Caem zumbindo como as asas de uma abelha
Folhas mortas no chão... Ao longe abandonada
Uma árvore esguia à beira de uma estrada
Impassível no lago opalino se espelha...
Ligeira a brisa passa a penumbra rasgando
Um grande beijo frio e agreste simulando
Beijo que refrigera, enleva e delicia
Outono! Eu te comparo a um longo sonho triste
Que as almas acorrenta e ao qual ninguém
Resiste.
Sonho feito de bruma e melancolia...
Na Barra
Que encanto! Que esplendor! Que poesia
Sopra a brisa n’um doce rumorejo
Enquanto n’uma dulcida harmonia
O mar e o céu confundem-se n’um beijo.
O oceano despótico, arquejante
Dos rochedos o dono altivo espanca,
Coroadas d’espumas flutuantes
Vagas soluçam pela areia branca.
O manto azul do céu empalidece
A noite merencória, aos poucos desce
E morre à tarde, plácida sombra
Muito além, no poente ensangüentado,
De bambinellas d’oiro e luz franjando,
Mergulha o sol nas vascas da agonia
Miragem
Noite estival, noite serena a beira mar!
Há beijos pelo ar...
Açucena ideal de neve ou de alabastro
No ébano da noite a lua deixa um rastro...
E do silêncio a dolorosa sinfonia,
Plange evocando
A tristeza presente e as venturas passadas
E abre os corações chagas cicatrizadas.
Ressuscitando
O fantasma cruel que é a melancolia
Debruço-me a janela
A asa luzidia de uma vela
Desliza lentamente
Sobre o estranho esplendor das águas opalinas...
E um outro barco só com os panos arriados
Lembra um inseto preguiçosamente
Erguendo para o céu suas antenas finas
Ao longe a beira
Da praia enorme enluarada e fria
Uma palmeira
Tem a esbelteza hierática, imponente
De uma antiga fidalga de legenda
Num trono de marfim sob um doce de renda
Estranhamente esguia...
E me parece ver subi de vez em quando
Dentre o lençol da bruma
Que se vai a pouco e pouco adelgada
Um vulto solitário
Roçando a espuma
Com a brancura espectral de seus longos sudários.
Silêncio tumular
Silêncio...Noite muda, não me assombre
Quero te contemplar
E contemplar as grandes vagas alvadias
Porque assim tem minha alma em certos dias
Este ondular fantástico de Sombras...
Saudades
Era tarde.
Num recanto florido e sombreado cantavam
alegremente os passarinhos.
Como um brilhante fio de prata viva
Serpeava um límpido regato, rolando sobre
pedrinhas, alvíssimas formava pequenas
cascatas
Galhos e raízes secas atravessavam-no
como minúsculas pontes. O firmamento estava
azul... mas de um azul tão claro...
De repente rompendo a ramagem esmeraldina
apareceu uma linda virgem. Tinha os olhos cor de saphira e os cachos