Osório Duque Estrada (soneto)*
Fatigado viajor, que do deserto,
Ledo, percorre o areal que o sol castiga,
Busca um pouso na terra, onde se abriga,
Vendo as sombras da noite que vem perto.
Assim também - minha doce amiga! -
Em meio ainda do percurso incerto,
No teu regaço, para mim aberto,
Fui repousar exausto de fadiga...
De uma planta fatal, que em meio à trilha
Em flores perfumadas se desata,
Bebe a morte o viajor que o sono pilha...
Assim teu beijo a vida me arrebata
- Beijo que guarda como a mancenilha**
O mesmo aroma que envenena e mata!
* Seleção de Napoleão Valadares (Jornal da ANE, jun/jul-2015, ano X, nº 64, p. 2).
** Mancenilha, do espanhol manzanilla: árvore da família das euforbiáceas (Hippomane mancinella), nativa da América Central, de folhas sorreadas, e cujas flores se apresentam em espiga, sendo o fruto uma baga e o látex venenoso.
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