Fui supervisor de vendas por muitos anos. Antes de me tornar um supervisor, porém, suportei as perseguições de vários deles. Eram amadores profissionalizados no empirismo, desqualificados para a função. Alguns chegaram ao cargo de supervisor por serem bajuladores ou foram promovidos por tempo de casa ou porque estavam velhos para função mais específica, outros não se adaptaram em cargo mais nobre e os patrões ficaram com pena de demiti-los. Eu mesmo, que me preparei e estudei bastante para ocupar o cargo, permaneci na supervisão vários anos, sendo promovido a gerente apenas vinte anos mais tarde. O cargo não é mole, eu diria que é mais um castigo do que outra coisa qualquer.
Normalmente os supervisores despreparados gostam de subir nas costas dos subordinados para impor autoridade. Tive um supervisor, um tal de Jajá do Pandeiro, dono de um mau-hálito terrível, que me obrigou a trabalhar em Jaboticabal num dia 24 de dezembro, na véspera do Natal, onde tive que visitar, contrariadíssimo, 12 médicos. Até chorei de raiva.
De outra feita, ele me fez retornar de Bertioga para trabalhar numa Quarta-feira de cinzas, estragando-me uma semana inteira de férias e o meu Carnaval daquele ano. Foi pura sacanagem dele, já que a empresa toda estava de folga. Até os médicos tiveram pena de mim. Quando me viam entrando com a pasta de amostras, assustavam-se e queriam saber o que eu estava fazendo ali naquele dia de festa. Só de sacanagem eu contava tudo, dizia o nome do bandido e eles me prometiam cobrar dele assim que aparecesse por lá. Logo depois eu saí da firma e nunca mais o vi nem sei o que aconteceu com ele. Espero que tenha ido para o inferno.
Às vezes eu me lembro disso e fico comparando os supervisores com o próprio Diabo. O supervisor é uma espécie de Diabo para fins pouco nobres, um tipo de capitão-do-mato dos tempos modernos, ele só não dá chibatadas, porradas e queimaduras mas o resto ele é capaz de fazer. Persegue, critica, pune e demite. O pior é que têm vida longa na empresa e o seu santo parece ser forte. Eu, mesmo sem querer, permaneci como supervisor por vinte anos e arrumei vários inimigos. Já sei que, quando eu morrer, vou ter que acertar contas com eles, mas tudo bem. Ao menos eu sei que não fui tão mau como o Jajá do Pandeiro e nunca estraguei o Natal ou o Carnaval de ninguém.
No Departamento de Pessoal do Inferno há um funcionário de nível médio temido, registrado no livro de empregados como sendo "O Supervisor". É o próprio sobrinho do Diabo em pessoa. A sua função é torturar os funcionários que cometem alguma falta. Os propagandistas pecadores que se cuidem quando lá aportarem.
