Usina de Letras

ASSIM... ASSIM... ASSIM...

Não...
Não faças sequer um gesto
Meu amor...
Eu vou seja aonde for
Contigo...

Não destruas a fonte
Enquanto a essência pairar
Não poluas a água
Deixa as nuvens beberem...

Eu sou um animal
E como tal
O surreal não me interessa...

Sinto a luz
Mas não sei o que a luz seja
Sinto o vento
Mas só temo o que ele venteja...

Não te mexas meu amor...
Assim... Assim... Assim...

António Torre da Guia

NEGAÇÃO SEM LIMITE !...

Que decadência...
Não sabes como fazer
Que rumo aprazível dar
Às partes pendentes...

Teus miolos estão enclausurados
Numa gaiola de cebo
E tens tanto-tanto medo
Que até finges que és livre...

Mas...
Mas definitivamente não sabes
Como te hás-de entretecer
Aonde haverás de meter
Essa inepta cabeça
Porque é deveras a cabeça
Que tu almejas introduzir algures
Algures-nenhures
Por falta de imaginação...
Ó pobre cassete mental
Imbecil e transida de inveja...

As partes pendentes ?!...
Sim... Entendes?!...
Os braços... As mãos...
As pernas... Os pés...
Sobretudo as orelhas
O nariz
As pálpebras
A língua...
A língua que teus dedos
Transmitem e imitam tão mal...

Só quando adquirires sensibilidade
Em todos esses inservis objectos
É que terás capacidade
Para ler... Para absorver
A melodia dos versos
Ver esta imagem de regalo
E ouvir o delicado murmúrio
De "Out of Africa"...

Pelo menos
Conseguirei ou não tirar-te
A cegueira ao tesão do "ão" ?!...

Penso que a cura
Para o teu peculiar caso
Passa por esta técnica de expressão
Assaz profiláctica... Ó "ão"...
Entretanto e por enquanto
És apenas e tão só
Uma negação sem limite !...

António Torre da Guia

Som = John Barry em "Out of Africa"

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