Terminada a leitura da sua crônica "O banquinho do piano", fiquei extremamente sensibilizada. Essa é a "prova dos nove" dos grandes escritores: - mobilizar a memória emocional dos leitores. E como você consegue fazê-lo com competência!...
A questão da representação simbólica é muito interessante devido à nossa singularidade, o que geralmente torna os nossos códigos bastante incompreensíveis aos outros. Interessante o fato narrado, referente à retirada do piano de sua casa. Para você, a maior perda dizia respeito ao banquinho, ainda que ancorada pelo pensamento animista de que ele não havia sido assim tão seu amigo...(rs).
Perdas, todos nós a temos durante a vida...Talvez doam mais quando a sensibilidade é mais aflorada, mas de qualquer forma são inevitáveis. Porém, o que mais gosto em você é a coragem de colocar as suas emoções de forma clara e sincera. Preocupantes são a postura monossilábica e ferina, os sentimentos ocultos nas compulsões verborrágicas excessivamente racionais, o afeto bloqueado pela desconfiança, as agressões despropositadas e o medo a paralisar novas tentativas.
No fundo, minha querida Sal, o banquinho pode tê-la decepcionado, mas os beijinhos e o carinho de sua mãe certamente lhe deram incentivo para persistir na vida. Como você mesma diz:
" Desse dia em diante, não quis mais a ajuda do banquinho e voltei ao meu ostracismo, até voltar a andar com minhas próprias pernas."
Está explicado o seu poder de regeneração, respeitadas as quarentenas que sempre acompanham os tombos. O que não se explica racionalmente é a beleza com que você aborda seus temas, contagiando-nos com uma nostalgia tão bela.
Espero sempre contar com a sua amizade e a inspiração dos seus textos.