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Cartas-->Minhas últimas palavras -- 01/02/2004 - 08:00 ( Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sentando aqui nessa cadeira na varanda da casa de campo e com os meus 92 anos sinto que os meus dias na terra estão chegando ao fim, quando ainda era jovem jamais sonhei viver tão longos anos, quando tinha 10 anos não sabia o que eram 10 anos, quando fiz 20 sentia que viveria para sempre ou seria “Forever Young”, aos 30 pela primeira vez senti o peso dos anos quando não consegui percorrer a mesma distancia que percorria com 20 e poucos anos.
Aos 57 quando o meu primeiro neto nasceu à vida tomou um novo sentido pra mim, aquele menininho me fez ver o quanto à vida é engraçada e se renova a cada momento, a gente morre e o mundo só acaba pra nós, para os que ficam a vida continua seu caminho, o show tem sempre que continuar.
Quando completei 70 anos e estava cercado pela imensa família confesso que chorei muito por dentro de felicidade em ver que o meu maior bem e a minha maior conquista eram aquelas pessoas que vieram ao mundo pelo fruto do meu amor, agradeci a Deus pela vida maravilhosa que tive e que a partir daquele momento em diante já podia ir para o andar de cima.
Agora com 92 anos acho que Deus esquece da gente, esquece de esticar as suas mãos e nos fazer dormir o sono eterno, o descanso merecido de nós guerreiros, sim porque viver é lutar, guerrear contra si mesmo o tempo inteiro, ás vezes penso que na verdade todos estamos mortos e a vida é apenas um sonho.
Daqui da varanda posso ver um lago de águas calmas e quase paradas se não fosse pela leve brisa que acaricia sua superfície, as arvores hoje estão tão belas e imagino um sorriso verde nelas, o céu está tão azul quanto o anil que mamãe usava para lavar roupas, esse é o jeito que gostaria de morrer, calmo e tranqüilo, sem dor e lembrando dos meus melhores momentos, na minha cabeça agora passa um filme de tudo, um replay feliz um videoclipe da vida.
Minha mais longínqua lembrança sou eu brincando no quintal de casa com um caminhãozinho vermelho de caçamba amarela e lá dentro da cozinha mamãe preparando o almoço, jamais provei uma comida como a de mamãe ela amava o amor que sentia por nós.
Lembro das escolas por onde passei e pelos professores que me ensinaram muito mais do que ler ou escrever ou ainda ficavam as capitais, algumas lições usei pela vida inteira e jamais me perdi delas.
Nesse tarde aqui sentado na varanda sinto que agora falta pouco para cumprir a minha jornada, para aliviar o peso e sarar as feridas que carrego na alma, elas foram o castigo que me trouxe a paz, essas ultimas batidas do meu velho coração são certamente as mais felizes que já tive.
Lembro-me do meu primeiro e do meu último amor, a minha primeira paixão foi vermelha da cor do vestido que ela usava quando namorávamos no alpendre da casa de vovó, ela tinha os olhos da Rita Hayworth e cheiro de rosas, o meu último amor me acompanhou ao longo da vida inteira, construímos tudo juntos e nos sustentamos um ao outro sempre, suas mãos nunca estavam frias e tinha um sorriso que me devolvia à calma, a maior saudade que senti na vida foi por dela depois que ela partiu primeiro do que eu, fiquei um pouco sem direção, pois ela levou um pedaço meu embora.
Lembro-me da minha primeira e da última viagem, a primeira eu era apenas um garotinho e meu pai, que era um sujeito muito sério porem um pai maravilhoso, nos levou para uma cidade bem no interior, onde ainda haviam muitas carroças, galinhas pela rua e crianças, muitas delas, jamais me esqueci de um menino que ficou meu amigo, nadávamos no rio e eu lhe contava as histórias da cidade e ele as de lá, quando fui embora chorei muito, mas muito mesmo, nunca mais vi aquele menino mas ele nunca me saiu da cabeça.
A última viagem foi para Nova Iorque há 22 anos atrás e eu pude a ver a neve que sonhei a vida toda, foi tão mágico ver aquele branco tomando conta de tudo, de tão empolgado esqueci até de sentir frio.
Nesse momento lembro dos meus irmãos queridos que me ensinaram o que ser um irmão amado, lembro de cada amigo que dividiu comigo sorrisos e lágrimas e principalmente dos meus filhos e netos que não são a continuação da minha vida, eu apenas irei viver no coração de cada um deles como alguém que os amou de todo o coração e sempre disse isso se não com palavras com olhares abraços e perdões, para onde quer que eu vá sou que quem vai continuar com pouquinho de cada um deles em mim.
Nesses últimos passos do meu caminhar fico pensando no futuro onde serei apenas memória e fotos num álbum de fotografias, vivi numa época não tão segura e confortável como essa mas sei que vivi intensamente até mesmo os desconfortos, dores e dificuldades, temo pelo que virá, a guerra dos cristãos contra muçulmanos é inevitável, não existirão mais ideologias é haverá um vazio nas pessoas, isso tudo me deixa triste e preocupado, mas quem sou eu, o futuro a Deus pertence.
As minhas ultimas palavras são:
Jamais deixe de amar a si mesmo, a sua vida é o seu maior bem e nada será mais valioso do que ela não importa o bem material que você possua, o seu maior patrimônio é a sua família e a sua maior conquista será fazer com que ela te ame.
Sempre abra bem os olhos para se livrar dos perigos, mas jamais feche o coração, uma pessoa seguro de nada vale se estiver sozinho.
Ah, tem uma coisa que eu não contei para vocês.Hoje é o meu aniversário e toda a minha família esta aqui a minha volta, tem coisa melhor do que morrer em seu ultimo aniversário numa tarde linda e cercado pela família?
Foi a morte que sonhei e consegui, acho que Deus lembrou-se de mim.

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MEUCAMINHAR@YAHOO.COM.BR





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