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cronicas-->Memórias -- 22/12/2006 - 22:06 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Memórias passadas. Lembro de uma ameixeira, grande o suficiente para abrigar toda a turma da rua. Lembro do afogado, da tristeza que tomou conta da rua. Lembro da bola rolando nas pedras da rua calçada, do menino que queria me bater, lembro da queda do muro e de minhas pernas paralisadas pelo impacto, das crises de asma e dos barulhos que a velha casa emitia ao anoitecer: Madeira vibrando, estalidos ao subir a escada em caracol, os cheiros da umidade e minha falta de ar.

Lembro de um local em que me escondia às vezes, solitário e cercado de aranhas de compridas pernas. Elas nunca gostaram de minha presença, isso eu via em seus pequenos olhos e notava seus movimentos de hostilidade aberta quando elas resolviam descer de seus estranhos casulos e expunham sua errática caminhada.

Lembro das manhãs ensolaradas, do cheiro de tinta que vinha da casa ao lado onde havia uma espécie de fábrica de gesso, lembro das estátuas de Jesus, Maria e José, todas olhando o céu e lembro de seu José, o artífice de mãos de ouro. Admirava as esculturas que ele fazia e pintava com a tal da tinta que me sufocava.

Lembro das paredes riscadas por pedras que tirávamos da rua, da bola que subia e descia o estreito corredor onde nós corríamos uns dos outros, lembro do carinho de minha mãe desenhando maravilhosas capas em nossos cadernos, lembro do olhar sisudo e atento de meu pai, sempre atento aos jornais e aos nossos brinquedos(que eram muitos).

Lembro de minha avó, a dona da casa, a observar as paredes esburacadas, a gemer com a tal árvore, lembro de meu avó a gritar truco! e nos ensinando as manias do jogo e contando histórias que minha mãe sempre ouvia com atenção. Lembro dos lençóis molhados da cama de meu irmão, da fimose operada e da dor de perder um amigo atropelado, lembro das moscas subindo do túnel escuro que era seu túmulo. Lembro-me de meus olhos tristes ao espelho, de meu físico mirrado e de minha psique raivosa. Tinha raiva de tudo, de todos. Lembro-me de querer a morte às vezes, lembro-me da alegria das manhãs e dos lanches suculentos de minha mãe.

Lembro que tudo isso se mistura, lembro de um enorme estalido, das pessoas correndo, pànico ao desabar um muro nas chuvas de Março, lembro do medo de morrer sufocado. Lembro de tudo e mais um pouco.Lembro do fascínio pelos livros, da ciência dos mistérios da vida, lembro que cedo me lembrei de nunca esquecer nada, nem nunca desprezar nem um minuto dessa nossa vida, que passa sem parar em enormes golfadas, que sem cessar nunca termina, que sem lembrança é um vago escurecer.
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