Paradoxo*
De minha infância, guardo estas lembranças:
Festas, fogos, balões, doces de cidra
Verde, nos quais qualquer garoto vidra;
Garças, cisnes... No pasto, reses mansas!
A escolinha; a menina, alva, de tranças,
Que muito amei (e não soube); de sidra,
Os goles raros! Nada se desvidra,
Porque é de luz o sonho das crianças!
Hoje, quadro cruel não as impugna;
E registra anormais cenas: mamãe
Não reconhece o filho, e este a repugna.
Pai deixa o lar sem que advertência ganhe.
Irmãos odientamente andam em pugna,
Sem ter nem procurar o amor de mãe.
(*) "Novos Talentos", volume 4, 1ª edição, Rio de Janeiro, Litteris Editora, 1993, página 50, recebe em 20/09/2014, o Diploma na categoria Destaque (Brasil Literário 2014). |