Minha TESE sobre o soneto “Cântico da Vida”
(de Torre da Guia),
cuja exposição será feita, estrofe a estrofe.
“É possível tudo em vida suportar
Do mais execrável ao hediondo
E quanto maior a dor se nos for pondo
Maior terá de ser quem a penar.”
Milene:
- Sim... É possível “tudo em vida suportar”...
Já diz um sábio ditado popular: “Deus dá o frio conforme o cobertor”.
O que significa que o ser humano foi feito “à imagem e semelhança de seu Criador”, que tanto “dá” como pode “tirar”.
Razão pela qual, movido por essa força criadora que traz “inata” dentro de si, pode transpor grandes obstáculos, sem sucumbir às adversidades, saindo delas com mais experiência de vida e pronto a enfrentar o que vier, proporcionando capacidade e enaltecimento, a cada tropeço superado, e exercitando-lhe o sentimento de humildade. Pois quem aprende a sofrer observa, também, as dores do próximo, o que o torna mais humanizado, pela compaixão.
“NUNCA O HOMEM É TÃO GRANDE COMO QUANDO ESTÁ DE JOELHOS“
“Sem egoísmo ou raiva de vingar
Os malefícios que nos vão fazendo
É preciso manter sem vacilar
A coragem de resistir sofrendo.”
Milene:
- Trata-se aqui da “grandeza interior”, que se vai firmando, com a aceitação resignada do sofrimento, dádiva que todos recebemos por “dom natural” e, como tal, jamais deveria ser diagnosticado: “castigo do céu...”
Como poderíamos, nós, valorizar os momentos de bonança, que nos proporcionam tanta paz, se não experimentássemos os seus opostos?
A vida nada mais é do que a soma de momentos vivenciados, sejam eles trágicos, banais, produtivos, ociosos, felizes, ou infelizes... E todos, necessariamente, “edificantes”, para o propósito da existência.
O Poeta Torre da Guia, nesta estrofe, ressalta com propriedade a “coragem de resistir sofrendo.”... Lembrou-me a ternura com que Sherazade, personagem de “As mil e uma noites”, conseguiu usar sua habilidosa meiguice, para abrandar o coração do Rei...
“A natureza em firme dividendo
Com dor e prazer se pronuncia
Muito para além do imaginado.”
Milene:
- Está, neste terceto, reiterada a afirmação, dada anteriormente: “Ninguém neste mundo tem a chance de viver, apenas, momentos de prazer e felicidade...
É necessário acumular lições das experiências dolorosas, para não sermos surpreendidos, frente a uma provação maior.
A vida tem nos dado exemplo de que as melhores coisas só se alcançam “com trabalho e com fadiga”.
Pode-se ver, no entanto, o “outro lado da moeda”.
Pessoas há, que, “Deitadas eternamente em berço esplêndido” não se sentem realizadas e são as que mais engrossam as dolorosas estatísticas de drogados, maníacos e suicidas...
“E o que se sabe de belo e horrendo
É tão só contradição que desafia
O bem e o mal... Deus e o diabo!”
Milene:
- Nada existe de “sobrenatural” nas forças que comandam o Universo e que, também, fazem morada em nosso íntimo.
O BEM e o MAL... São tão naturais como o ar que respiramos e não podemos ver.
E se o homem atribui a Deus, ou ao Diabo, o que de bem ou mal ele “amealha” no decorrer dos anos, é por pura ignorância.
Põe, então, a culpa no invisível, de fenômenos que sua mente não consegue captar, explicando-os como “castigo do céu”.
Essa constatação, não raro, lhe transtorna a mente, dificultando-lhe a vida.
A “natureza” nos ensina que há uma real necessidade de se deixar que a criança conviva com os germes nocivos à saúde, para criarem resistência às mais temíveis doenças...
Só se sente plenamente o verdadeiro sabor do fruto, quando este amadurece a seu tempo.
Se o homem apressa o decurso normal, provará um fruto amargo, pois a natureza de sua essência foi alterada.
Finalizo, então, este “ensaio de tese” defendendo a idéia de que nada no universo que nos cerca é “sobrenatural”; tudo obedece a uma sábia Engrenagem que antecede a nossa “vã filosofia”, e deixa que os acontecimentos se desenvolvam, dentro de um ritmo natural ao qual foram destinados.
O próprio “Deus”, ou o “Diabo”, a quem se refere o poeta, na simbólica existência do BEM e do MAL, são seres “naturais”, por fazerem parte de nós mesmos.
Quando uma mente deseja, com ardorosa fé, alguma coisa e se concentra em sua obtenção, todos os elementos da natureza se mobilizam para conceder-lhe o desejo.
Isto porque somos parte de um grande TODO e a ele estamos interligados, em essência.
* Tese para apreciação dos “auditores da Usina”.
Milene Arder
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