Usina de Letras
Usina de Letras
155 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62210 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140797)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->LEMBRANÇAS DO NATAL -- 10/12/2006 - 11:08 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEMBRANÇAS DO NATAL

Francisco Miguel de Moura*

Não adianta perguntar como Machado de Assis, "se mudou o Natal ou mudei eu". Certamente nós dois mudamos. Tudo muda na vida. Só a morte não muda, é eterna. Muitas mudanças, se comparado o Natal de hoje com o de ontem, ocorreram. As de ontem são lembranças com saudade, e outras nem tanto, mas mesmo assim gostosas. No meu tempo de criança, o fim do ano era esperado com ansiedade. E por quê? Era o tempo em que os pais mandavam os filhos aos padrinhos na esperança de que ganhassem algum presente. A desculpa era que lhes deviam tomar a bênção. No interior mora-se longe uns dos outros, e assim o passeio era muito desejado pelos meninos e esperado pelos avós, tios, tias, primos. Eu, como primogênito, ia aos meus avós paternos, onde era recebido com festa. A casa do velho Sinhó do Diogo, meu avó, tinha fartura. Por outra, em matéria de conversa e de presente ele era um pão-duro. Minha conversa principal foi com os tios e tias, com minha avó, também muito calada, e com os primos do meu tope.
A gente lembra de tudo da primeira vez: as brincadeiras com Chico de tia Doninha, criado por meu avó como filho e de quem eu alimentava uma boa dose de ciúme, que se desfez ao primeiro contato. Brincamos em redor da casa com vacas e bois de osso de reses que morreram ou foram abatidas. Também com cavalo de pau que a gente mesmo fazia cortando a mata dali de perto. Tiramos imbus dos imbuzeiros, montamos em jegues. Chegando a casa tarde e cansados ainda brincamos de carrapeta - uma pequena cabaça em cuja extremidade menor se fazia um furo onde meter um pauzinho bem feito ou um pequeno pedaço de ferro redondo, de forma que rodasse como um pião. E rodava. Uma beleza. Voltei para casa maravilhado. Na euforia já pensava em ir visitar a Lapinha, ouvir as pastorinhas cantarem na igreja, que tudo aquilo eu achava encantador, e contar aos meninos de lá da igreja o que fizera no meu Natal.
Voltei no dia seguinte. Na chegada, minha mãe me perguntou logo:
- Cadê o presente, meu filho?
- Meu padrinho esqueceu, mãe.
- Esqueceu nada! Que padrinho é esse que deixa o afilhado pagão? Você falou no Natal?
- Não! - disse esfregando os olhos, arrependido.
- Tem nada não, meu filho! - ela me consolou. - Nós somos pobres mesmo. O menino que nasceu em Belém, na manjedoura, era pobre também.
Naquele momento, não me ocorreu nenhum argumento. Depois foi que lembrei do Presépio de Natal. Todo ano era colocado na igreja do povoado: - O menino na manjedoura, tudo limpinho, rodeado de animais - vacas, ovelhas, jumentos que pastavam a grama verdinha, alegres. Ao redor, os reis magos com os presentes: ouro, incenso e mirra. Uma estrela surgia no céu... As pastorinhas entoavam cantigas bonitas, a uma só voz. Meu pensamento só aceitou aquela situação - a falta do presente de Natal como se fosse uma rejeição - porque sabia que Jesus era pobre. "Ora, se o filho de Deus merecia tudo aquilo... e eu também era filho de Deus!..." Mas, se caísse na besteira de expressar tal pensamento, receberia de minha mãe um grande puxão de orelha, antes mesmo que percebesse a extensão das minhas palavras de revolta, guardadas até hoje. Nem todos os natais são iguais, por isto não me envergonho de dizer que aquele foi um Natal não muito feliz, mas do qual ainda me recordo com inusitado prazer.
Se não fosse Natal...
______________
*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui