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Contos-->CONVERSA COM UMA BONECA DE PANO XI -- 08/01/2012 - 09:22 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu acompanhava os estágios de recuperação de Leonora, a gerente, com interesse especial, pois aquela mulher escondia dentro de si uma natureza enigmática, exótica que nem ela mesma poderia explicar.
Comecei a observar o seu corpo. Ela não era formosa, mas também não se enquadrava como feia. Tinha um corpo moreno de um metro e setenta, bem conservado com aparência de trinta anos, cabelos castanhos escorridos sobre os ombros, um rosto retangular com dois olhos grandes um pouco azulados que apresentavam uma conotação diferente ao seu perfil, nariz retilíneo, uma boca bem delineada que se revestia de um sorriso tímido na hora de sorrir. Seus seios ainda se conservavam rígidos e bem dispostos, suas belas pernas faziam chamar a atenção de qualquer observador. Tais atributos eram ofuscados pela roupagem um pouco austera usada na função de gerente do Banheiro Público. Eu reparava no seu pequeno traseiro quando ela me flagrou e perguntou-me com espanto: por que me olha assim? Fiquei sem jeito e revelei que tinha um belo corpo digno de ser admirado. Ela indagou sorrindo: você acha? Notei que ficou satisfeita com meu comentário, pois de qualquer forma, as mulheres sempre gostam de ser elogiadas, principalmente quando se trata de seus dotes anatômicos. De repente, tornou-se séria e fitou-me com ar inquietante: você sabe por que o segurei no Banheiro Público, não sabe? Fiquei calado enquanto esperava a continuação daquele diálogo. Ela insistiu: não sabe? Repliquei: sim, eu sei. Ela continuou: não preciso dizer mais nada sobre o assunto; sinto-me constrangida e envergonhada; faltava-me força para controlar o meu instinto. Tudo em minha vida girava em torno do sexo, minha mente era um reduto de fantasias sexuais. Eu nunca me casei, pois os meus parceiros não suportavam minha obsessão e fugiam de mim apavorados. Foi aí que me prostituí. É uma história muito longa que não poderei lhe contar assim numa simples conversa. Só sei que não pude me conter quando você apareceu e comecei a arquitetar mil maneiras de seduzi-lo. Ela estava severamente compungida pelo que havia praticado ao longo de toda a sua vida. Eu disse: você não deve se culpar assim. Hoje tem tudo para se remir, se assim o desejar. Ela disse: mas é muito forte, muito forte, eu não consigo me dominar. Eu discordei: Tente apenas começar. Sua história terá outro rumo e você sentirá um sabor mais agradável. Ela gritou: Mas eu não posso, sou viciada em sexo, sou ninfomaníaca, você entendeu? Meu desejo é mais forte do que eu. Calmamente, olhando nos seus olhos eu falei: você pode, sim. Basta querer.
Eu não gosto de ver ninguém chorar. A sensibilidade da gerente estava à flor da pele e ela se debulhava em pranto. Depois que me retirei, meu pensamento já seguia outros rumos. Nunca mais avistei a mulher amnésica e a Gabi. Talvez fora melhor assim, talvez estivesse casada e vivesse bem com seu marido e a filhinha que eu apostava ser minha, talvez eu fosse conturbar a sua vida com perguntas intempestivas e indiscretas. Retornei por diversas vezes ao local onde entrevi a figura de Leonora, mas em vão. Nenhum sinal de Leonora. Caminhei com o olhar atento às pessoas, principalmente às mulheres e nada de Leonora. Mas o que apareceu diante de mim foi um sujeito que caminhava na mesma direção que a minha e começou a falar uma série de bobagens que eu tive que escutar por algum tempo. Ele dizia assim: pois é, companheiro! Vida de cachorro, eu creio, é bem melhor. Veja bem, quem, nesta maldita rua, se preocupa em saber quem eu sou, como estou, o que me fez deslocar para esse tumulto, apesar de doente e enfraquecido? A quem interessa se estou com fome ou com sede, ou por que ando coxeando? Voltei-me discretamente para o homem, sem deixar de observar as mulheres. Ele emitia um som gutural e semelhava-se a uma espécie canina, com as mandíbulas salientes, orelhas grandes e caídas. Sua voz era rouca, compassada e ele coxeava de um pé. Ele prosseguiu: O cachorro é cuidado por seu dono que lhe dá banho e comida no horário certo. Se fica agitado, passeia com ele em torno do quarteirão para acalmá-lo; se acaso está triste, é tratado com o maior desvelo; se o sintoma persiste, é assistido pelo veterinário que promove todo tipo de exame para descobrir a causa de tal sintoma. Na minha situação, seria bem melhor ser um cão. Evitando dar seguimento à conversa, adiantei os passos, com o propósito de me livrar do incômodo interlocutor e infiltrei-me na multidão. porque o que me interessava era vislumbrar a figura de Leonora. Ainda escutei um garotinho que falava para sua mãe: mãe, aquele homem está rosnando que nem um cachorro! A criança falou assim, puxando a saia da mãe. Achei engraçado o comentário da criança e não pude deixar de sorrir por isso. Aí me lembrei do meu amigo que me chamou de idiota só porque eu conversava com uma boneca, só porque eu conversava contigo. Na realidade, todos nós somos idiotas porque temos um modo peculiar de vida que difere do comportamento padrão, todos nós nos enquadramos no rol dos desajustados, idiotas, ou qualquer outra qualificação, quando nos desviamos da contextura geral.
Leonora não aparecia e eu desisti. Um sentimento nostálgico tomou conta de mim, as emoções invadiram meu coração e eu quase chorei, mas depressa voltei ao normal e me recompus, excluindo de minha mente as lembranças de um tempo remoto. Tratei de esquecer aquela aparição e de encará-la simplesmente como uma alucinação, uma coisa que não aconteceu.
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