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Contos-->Não sou dono de mim -- 29/12/2011 - 19:38 (Francisco A. Florence) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sem ao menos dizer que me amas e notando o desarranjo que faço no ambiente doméstico gostarias que fosse outra minha atitude. Uma atitude como a tua, por certo. Todavia, isto não será possível sem que ocorra profunda mudança interna. E, neste caso, não posso interferir porque não sou eu quem dirige o sistema que me compõe.
Embora me sinta impelido para a vida, até o ato de respirar é automático e executado sem qualquer esforço meu. É tão suave que, na maioria das vezes, nem atino que estou respirando.
- Vês? Respirar é tão simples assim!
O que me cabe, seriamente, não fica muito além de beber o líquido, mastigar o sólido e deglutir o bolo alimentar. A partir daí, o resto se processa sem que participe de mim mesmo.
E devo considerar também que alguma doença pode me surpreender e me castigar, não se importando com meus apelos de clemência.
Eu não estou no comando, sem dúvida.
Os órgãos internos funcionam independentes de mim e não tenho controle sobre nenhum deles. A realidade que conheço é a que o cérebro resolve me mostrar, selecionando sinais que advêm de limitada impressão sensorial sobre a massa encefálica.
O coração bate por si mesmo e nem ouço suas batidas.
O fígado? Sei que tem função importante, mas trabalha em silêncio.
O estômago sempre ajeita o que nele despejo.
Dos intestinos quando ouço algum ruído, não adianta pedir que se calem. Também é preciso dizer que neles vivem bactérias sobre as quais não exerço qualquer autoridade.
O pâncreas? Cuida sozinho de certas tarefas como a de produzir insulina no momento exato. E nada me notifica a respeito disso.
O baço não dá nenhum pio. Às vezes, até duvido de sua existência.
A vesícula biliar nunca me falou o que faz, ou o que deixa de fazer.
Portanto, é como se cada um deles tivesse vida própria denotando ser aparente minha chefia.
É claro que, às vezes, a bexiga me pede auxílio e o intestino idem. Mas afora isto, não sei o que se passa por dentro.
Não os governando, corro o risco do imprevisível. De repente, os rins chiam, os intestinos soltam, os pulmões arfam, ou o coração palpita.
E sob tantos acontecimentos independentes desconfio da produção de meus próprios pensamentos. Ou seja, eles não seriam meus realmente em sua origem. Nasceriam de alguma fonte que desconheço e que os faz brotar em minha mente. Suspeito disso porque na madrugada, ao despertar de um sonho, pensamentos percorrem meu cérebro sem que eu queira, ou possa controlar. Eles me agitam. Busco esquecê-los para reconciliar a paz e o sono, o que é um de meus poucos atos voluntários. E sono é também alimento, conforme li, certa feita, em artigo de cientista.
Desta forma, aqui estou para servir aos órgãos internos e, sendo servo, tenho a função de providenciar seu sustento. Como efeito de minha servidão, eles
me iludem com a sensação de estar vivo e de administrar o que se passa. Mas sou, antes de tudo, resultado deles, cujo dinamismo combina perfeitamente com a formação intrínseca de quem nasceu sem saber que nasceria para morrer em dia incerto sem saber como será.
Como vês; não posso resolver o que me pedes, pois o ambiente que crio à minha volta é reflexo do sistema que me contém.
Afinal, o que queres que eu faça?
Se, nessas condições, fica comprovado que não sou dono de mim?
Não sou dono de mim! Não sou dono de mim!
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