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Contos-->O INCRÍVEL RETORNO -- 19/12/2011 - 15:30 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O INCRÍVEL RETORNO


Zarvos pediu que seu breakfast fosse servido no apartamento, às sete da manhã. Não era seu hábito. Mas, naquele dia 10 de setembro de 2001, ele não queria perder tempo com seus afazeres.
Consultou o relógio do notebook – 6.15 am.
Tomou banho e aparou a barba em quinze minutos. Vestiu uma calça esporte, camisa de manga comprida e calçou tênis, esperou o desjejum, pediu um táxi e foi direto para o aeroporto de Congonhas.
Como estava hospedado num flat próximo à avenida Berrini, calculou que em menos de trinta minutos resolveria os seus problemas de conexão, para chegar em tempo de uma importante reunião no dia seguinte em New York. Deu uma olhada rápida na agenda do celular e confirmou – reunião com seus sócios no dia 11 de setembro, pela manhã, no World Trade Center.
Foi chamado de última hora. Todos os lugares de primeira classe estavam lotados. Em hipótese alguma viajaria nas classes intermediárias. Desde que se tornou diretor vice-presidente da Foods Citricus Incorporation, em 1993, só viajava na first class.
Desceu do táxi e foi direto para o balcão da Varig, onde um executivo da empresa o esperava.
Depois de muitos telefonemas, o amigo, diretor da companhia aérea, conseguiu o lugar que ele queria, no voo que sairia de Cumbica em Guarulhos à uma hora da tarde, com escala em Miami e pouso no aeroporto Newark, em New Jersey. No máximo às sete da manhã, horário local, estaria livre da alfândega para seguir sob o rio Hudson até Manhattan. Lá, no 79º andar da torre norte ficava a sede de sua empresa de representações de sucos de frutas, legumes e refrigerantes.
De origem sérvia, Martin Zarvos emigrou para os Estados Unidos aos dezoito anos, onde serviu em uma unidade de artilharia na Coreia do Sul.
De volta ao país, formou-se em engenharia alimentar e foi para o Havaí trabalhar em uma fábrica de suco de abacaxi.
Lá conheceu exportadores de sucos brasileiros interessados na industrialização do abacaxi, que seria plantado entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais, fronteira com o Triângulo Mineiro.
No início dos anos de 1980, trabalhava como diretor industrial em uma fábrica de suco concentrado de laranja e abacaxi em Barretos, SP.
Sua carreira profissional progredia de forma vertiginosa.
Convidado para fazer parte da firma de representações com sede nos Estados Unidos, não vacilou. Solteiro, sem compromissos, a não ser os profissionais, e aproveitando de sua condição civil de americano, mudou-se para New York.
Sentado confortavelmente na primeira classe, pensando naquela reunião tão importante, todo o seu passado, desde criança até aquele momento, veio à sua mente.
Ele sabia bem o motivo da reunião.
Seus sócios queriam abrir um escritório na China, pois as pesquisas apontavam que este país, apesar do regime comunista, seria um gigante no comércio mundial, nos próximos anos.
Às seis horas, depois do breakfast, uma das comissárias informou que em trinta minutos desceriam em Newark.
Depois de cumprir as exigências para entrar no país, Zarvos tomou um táxi e consultou o relógio: 7 h50 am do dia 11 de setembro de 2001.
Leu o jornal que estava no banco e perguntou ao motorista como estava o trânsito no túnel.
– Ruim como sempre. Creio que chegaremos em quarenta minutos.
Zarvos pagou a corrida, entrou no hall da torre norte. Ao se apresentar no balcão da segurança, olhou o relógio digital da parede – eram exatamente 8:41 am.
Puxando sua mala transformada em carrinho e com a pasta executiva na mão esquerda, entrou no elevador e apertou o botão do 79º andar.
Ficou espantado em perceber que só ele estava usando o elevador. Pensou no horário. É cedo, ainda. O pessoal chega para trabalhar somente às 9h00. E os turistas começam a visitar a torre depois das onze.
Estava nesses devaneios quando um solavanco forte parou o elevador.
Zarvos não caiu porque era bastante alto – um metro e noventa e cinco – mas ficou contra uma das paredes, apoiando o braço direito na outra. Sua bagagem foi atirada ao chão.
Recuperando-se do choque, procurou o botão de emergência e o telefone interno para pedir ajuda.
O telefone estava desligado e a emergência não funcionou.
Nesse instante, as luzes apagaram-se. Enquanto Zarvos pedia proteção a Deus, sentiu o elevador desabar.
Foi quando aconteceu a grande explosão. O elevador estava no meio de fogo, fumaça e poeira.
Zarvos perdeu os sentidos.
Na manhã do dia seguinte, 12 de setembro, o apartamento 47 do flat onde Zarvos estava hospedado estava sendo locado para outro executivo.
Um ajudante subiu com o novo hóspede, carregando a sua bagagem.
O funcionário tentou abrir a porta do quarto, porém, não conseguiu.
Chamaram a camareira que, mesmo utilizando a chave mestra, também não obteve êxito.
O hóspede foi colocado em outro apartamento até o gerente do flat chamar um chaveiro para abrir a tal porta.
Depois de examinar a razão por que a porta não abria, ele disse ao gerente:
– Está travada por dentro. Temos de arrombá-la!
O gerente tentou, durante mais de cinco minutos, falar com o hóspede do 47, mas ninguém atendeu.
Assim, dirigiram-se ao quarto, que foi aberto com uma alavanca.
Surpresa!
Estendido na cama, só de bermuda, com aquele corpo inconfundível, estava Zarvos.
Aproximaram-se e constataram que aquele senhor de quase setenta anos estava morto.
Chamaram a polícia.
Depois de cumprir toda a burocracia, o corpo e os pertences do falecido foram levados para o Instituto Médico Legal do Brooklin.
O inquérito policial constatou que o passaporte de Zarvos mostrava a saída do Brasil em 10 de setembro de 2011. E, na mesma página, o carimbo de entrada nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2011.
Na maleta, os canhotos da passagem de primeira classe e, em meio a outros pertences, os chinelos não usados e a caixa de chocolates, ainda fechada, oferecidos no avião,
O médico legista atestou que a rigidez cadavérica era de aproximadamente vinte e quatro horas.
O gerente e os funcionários dos turnos da tarde e da noite, os funcionários da Varig do Brasil e dos Estados Unidos, mais os federais dos balcões da alfândega brasileira por onde passou esse novo fantasma foram diversas vezes intimados a prestar esclarecimentos sobre a volta de Martin Zarvos ao estabelecimento.
Segundo o atestado de óbito, a causa da morte foi um enfarte. Outros relatórios do IML registram grande acúmulo de cinza e poeira nos pulmões.
Ao arquivar o inquérito, a mando do Ministério Público, o delegado titular encarregado do caso, que assombrou aquele luxuoso flat, diz, depois de ter ouvido todas as testemunhas:
– Não quero que nenhuma alma do outro mundo venha assombrar também esta delegacia. Benzendo-se, continua:
– Somente Deus será capaz de solucionar o enigma de tal fenômeno!


Roberto Stavale
São Paulo, Setembro de 2011.-
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