Usina de Letras
Usina de Letras
56 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62244 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10372)

Erótico (13571)

Frases (50643)

Humor (20033)

Infantil (5441)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140812)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6199)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Humor-->Quando voltei do futuro -- 30/08/2001 - 22:48 (Felipe Cerquize) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquele dia, quando acordei e saí para comprar o pão, percebi que alguma coisa estava errada. No lugar da padaria, encontrava-se uma loja de material de construção. Enquanto tentava entender, corria os olhos pelos arredores e ia percebendo que havia algo realmente fora do normal. A oficina estava fechada, com uma placa de vende-se. Não havia mais o ponto de ônibus onde eu embarcava para o trabalho todos os dias. O loteamento recém-lançado, no quarteirão onde morava, estava cheio de construções. Voltei atônito para casa, tentando encontrar uma explicação para aquilo tudo. Sentei-me à mesa do café e comecei a pensar, com o olhar fixo no relógio de parede que havia na cozinha. De tanto ficar olhando, comecei a prestar atenção no relógio. A hora estava certa, o dia estava certo, mas... o calendário estava adiantado exatamente um ano. Um ano adiantado?! Completamente perturbado, fui para a sala liguei a televisão e lá estava um ministro da fazenda que eu não conhecia numa emissora que não existia. Fui correndo até a casa do vizinho e ele me confirmou a data em que vivíamos. De maneira inexplicável, fui dormir num ano e acordei no outro. E agora? Ou melhor, e depois? Ou melhor, e ontem? Não havia como não ficar confuso .

Independente do ano em que eu vivia, tinha de ir para o trabalho. Chegando lá, o vigilante perguntou-me se estava indo rever os amigos. Não precisou falar mais nada. Deu para entender que eu não trabalhava mais na empresa em que havia estado por mais de dez anos. Meio sem rumo, peguei um ônibus para o centro da cidade e fiquei zanzando pelas ruas movimentadas, tentando entender o limite entre a realidade e a ficção. Sentei-me numa cadeira de bar e, enquanto tomava um chope, via o fluxo de pessoas na casa lotérica, do outro lado da rua. Fiquei divagando e, de repente, comecei a pensar como é que seria se eu acabasse encontrando comigo mesmo. Afinal de contas, existia um eu que fazia parte daquela realidade e que, inclusive, sabia que ou havia sido demitido ou havia pedido demissão. Terminado o chope, atravessei a rua e, em frente à loteria, peguei um ônibus de volta para casa. Eu estava exausto.

No dia seguinte, quando despertei, me veio logo a preocupação com a sobrevivência. Afinal, eu estava desempregado (ou sem saber onde trabalhava) e tinha de correr atrás do prejuízo. Quando olhei para o relógio da cozinha, percebi que o calendário havia voltado ao normal. Que loucura era aquela?! Fui até a rua e a padaria tinha voltado. Tudo estava como antes. Fui ao trabalho e só me perguntaram por que eu havia faltado no dia anterior. Eu voltei do futuro! Comecei a fazer as tarefas do dia sem ter com quem desabafar aquela situação estapafúrdia. Caramba! Aquilo foi uma tremenda experiência e só eu sabia pelo que havia passado. Até um chope eu tomei no futuro! Lembrei-me, então, da casa lotérica e que, quando eu fiquei no ponto de ônibus, vi o resultado da loteria. Será que fui eu quem ganhou naquela semana?

Os dias foram-se passando e cada vez mais eu ficava apreensivo. Comecei a ter postura de rico à custa de dívidas. As pessoas riam de mim, quando falava sobre um futuro não muito distante, em que ganharia na loteria. Cometi tantas negligências no meu trabalho, que acabei sendo demitido. Não me importei, porque aquilo fazia parte do futuro. Falava para todos que o dia da grande virada estava próximo. Em casa, eu só ficava olhando para os números que anotei num papel para a eventualidade de uma amnésia súbita. Quando saía de casa, olhava convencidamente para o loteamento cheio de construções e para a padaria que não existia mais.

Finalmente, chegou a grande semana. Na segunda-feira, pela manhã, já estava na porta da casa lotérica para fazer a derradeira fezinha. Apostei naquela loja, no centro da cidade, para não haver dúvidas. Depois, segui para o mesmo bar de antes. Durante a semana, fui estrategicamente preparando as malas, para uma mudança rápida, que não deixasse pistas para os repórteres. Os vizinhos ficavam torcendo sarcasticamente por mim.

Chegou o domingo. Sortearam os números. Antes que eu escutasse o resultado no rádio, o meu vizinho já estava no portão para me dizer as dezenas e perguntar ironicamente se eu tinha acertado. Quando ele terminou de falar a última dezena, foi como se eu tivesse ido ao orgasmo. Saí correndo com as malas para um hotel cinco estrelas na zona sul. Rico! Eu estava rico! Pedi ao garçom um champanhe francês e um charuto cubano para comemorar. Fui dormir de porre e, no dia seguinte, acordei com a ressaca mais gostosa da minha vida. Peguei o bilhete e fui direto para agência bancária que paga os prêmios de loteria. No setor de pagamentos, mostrei o comprovante e pedi para que fizessem uma bolsa de investimentos para mim. Vinte porcento em renda fixa, trinta porcento em CDB, vinte porcento em caderneta de poupança e dez porcento em fundos de ação. O restante, pedi para que deixassem em conta corrente, para que eu comprasse um confortável apartamento no melhor bairro da cidade. O gerente, com um sorriso amável, conferiu o bilhete e já ia preparando a transferência do dinheiro, quando pegou de novo o bilhete e falou:

- Meu amigo, você acertou os números sim, porém na loteria errada. Este resultado é da Mega-Sena, mas você jogou na Supersena.

Naquele mesmo dia, mês e ano, há um ano atrás, eu estava tomando um chope no bar em frente à casa lotérica onde errei a aposta. Desta vez, eu estava indo para o hospital, com um enfarto agudo do miocárdio. O futuro realmente a Deus pertence. Sinceramente, espero nunca mais rever os meus vizinhos.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui