TENSÕES E ENXAQUECAS DO GOVERNO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Ela tem nome e é poderosa. É jovem, é rica e muito manhosa. Controla todo o mercado. Vive pra cima e pra baixo. Não respeita nem feriado. Nunca sabe o que é, ou o que será. Comunga com a turma do “acho”. Faz drama como toda mulher. Quase toda, pelo menos. Tem espinhos e tem rosa. É conhecida na praça. Seu nome é Selic, Um poço sem graça. Tem regra mensal. Faz fuxico e pirraça. É trabalhadora mensal. Do quadro efetivo do Banco Central. É muito falada e muito mimada. Um pouco discreta e também recatada.
Tem muitos amigos, com muito dinheiro. Gente de grana e até estrangeiro. Corretor de bolsa e muito banqueiro. Provoca enxaqueca, tensão menstrual. A cada período de reunião. O estresse acontece, no Banco Central.
Todo mundo de olho no seu sobe-e-desce. Se desce, arrefece, o ganho de capital. Se sobe, acontece, alegria geral. Não gosta de pobre, tem esse defeito. O pobre não entra no mundo global. Não corre o risco, de ver seu dinheiro, sumir no sumiço, do mercado financeiro.
Assim é a Selic, tão desejada e odiada. Volúvel como a roleta. Adora quando o juro sobe, pois ganha gorjeta. Nasceu em Barcelona, seu pai lavrador. Veio para o Brasil, e aqui fez a fama. Deitou-se na cama, e também estudou. Sorriu para o homem e também ganhou. Do seu rico amigo, a primeira peseta. Que em real transformou.
E o mercado assim, ficou. Com a Selic, e seu chilique. Estressado e mal-acostumado. Agitado e preocupado. Com medo que ela caia e se machuque. Que a queda seja grande, ou seja um truque. Junto com o seu amigo americano, o dólar furado. Que vive subindo e caindo, obre coitado! Gastando dinheiro com o ortopedista monetário. Enquanto ela, a Selic, vai ao ginecologista. Mudar as regras para enfrentar a inflação. Das regras da menstruação. Com medo da oferta e da procura. Da corrida pelo ouro, da loucura. Aumentando a distância entre as classes. Aumentando a tal da concentração. De renda e de poder. Cada vez mais, a caminho de uma só mão.
Até o dia em que a Selic envelhecer. E não teremos mais reunião. E nem menstruação. Pra velhinha, no asilo, aprender. Que o Brasil voltará a crescer. Sem precisar de manipulação. De riscos e índices incontáveis. De economistas notáveis. Nossos mágicos de plantão. Que não aprenderam sequer. Distribuir um caroço de feijão.
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