Usina de Letras
Usina de Letras
58 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62193 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50599)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->O Outro -- 02/11/2006 - 19:33 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrever um texto qualquer, como este, é uma aventura. Os parágrafos vêm à mente, surgem idéias que brotam do nada e a gente acaba pensando puxa, mas isto é escrito ou transcrevo idéias de Outro que se sobrepõe à minha pessoa, tomando meus nervos, meus músculos e minha ossatura para imprimir marca indelével num mundo que já passado, se foi há muito e agora, através de minha pessoa, se faz gênero e espécie, isto é, assume forma e função, minhas mãos são suas escribas, então eu apenas obedeço ao que o Outro diz. O que ele diz? Eu percebo que ele me olha através de mim mesmo, sendo Outro e eu sendo eu, somos apenas formas distantes do que já foi um dia um só, eu e ele compartilhamos este exíguo espaço e ele me sussurra, você mente, você mente, desbragadamente, espera que me convença de que afinal eu sou o Outro e você é que não? O que te faz pensar que está vivo e eu sou uma sombra de si mesmo, o que te faz pensar que Outro além de mim e que esteja acima, além, não nos comanda a ambos, eu e você, numa espécie de jogo cósmico, em que somos peças de xadrez, torres, bispos, rainhas e coisas assim corriqueiras? Eu penso cá comigo, que ousadia, ele pensa que é o que sou e eu é que sou Outro, um Outro mais além, seria eu então uma quimera, um fiapo de sonho e ele seria parte de um sonho mais secreto, o sonho de uma abelha em torno de uma maçã, seria eu o Outro pensando ser vivo e nada mais além de um fantasma, uma fera acuada além do espelho que aprisiona a todos além da morte, um fraco reflexo dele que eu achava ser Outro, esperando o momento de assomar após o sono reparador de tantas horas, nunca dormi tanto como ultimamente, viu, diz ele, viu como mentes? Claro que dormes, dormes o dia todo, não é para isto que serve a morte, dormimos para nos esquecer de nós mesmos, de tudo, do mundo, das surpresas... Aí é que eu vejo bem e ao olhar o espelho vejo talvez a fugidia imagem dele, um pálido brilho de olhar trapaceiro, uma nesga de luz alentecida pelo calor do dia que se passa devagar nas paragens cotidianas de meus dias, eu sempre vejo que o Outro se sobrepõe, mas ai dele, ai dele se ousar tocar no que ainda tenho de meu, ai do Outro que não sobra nem farrapo, e ele sabe, mas diz, está vendo? Está vendo? Mentes de novo e o pior, mentes a ti mesmo, é claro que eu é que arremeto à realidade quando sonhas por séculos, eu é que acordo manhã cedo e tomo o ónibus, sou eu que defendo minha espécie de Outros como você, eu é que me rebelo contra esta injusta justiça que nos reduz a este estado de frouxidão e de medo, pois deste nada sobrou em mim e eu reflito, este Outro, este outro estado de consciência, este outro permanecer, sendo e estando, será o que fica após nossa saída do mundo? Se assim o for, poderia conversar com Outros, da mesma linhagem ou até mais antigos, este Outro que me fala me desagrada, quereria conversar com outras, Outras e muitas mais, mas este aqui me confunde, este aqui me magoa e ele, está vendo? Está vendo? De onde vem esta tristeza senão da consciência que terminou de terminar, de onde vem esta infinita dor senão da sensação de que teus dias estão então contados, de onde vem esta fina dor secreta que enfim demonstra cabalmente que eu, não tu, é que sou o outro e tu, o Outro e finalmente me convenço afinal, ele deve ter razão, esta insistência de minha parte em ficar aqui, enclausurado enquanto ele vem, este Outro que se apossa de minhas palavras, este Outro não é ninguém senão os outros que ainda serão mais e muitos Outros que já vieram de mim e agora, assim tão de repente quanto surgiram e se fizeram presentes, somem, com vozes intangíveis e voltam para onde vão as vozes esquecidas nos pàntanos de minha memória que se apaga como se apagam as estrelas antes mesmo de brilharem no céu sem nuvens que eu contemplo de meu infinito abrigo.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui