Economia, globalização e a Internet Outubro de 1998
*Não podemos compreender o termo economia em sua real amplitude nos dias atuais, sem uma profunda reflexão acerca do conceito “globalização”.*
Quando pensamos em globalização hoje, não raro, entre outras, a palavra “internet” vem-nos à mente. “Ah, esses homens e suas máquinas maravilhosas!” Muniram-nos com o poder da intercomunicabilidade instantânea. Tecnologia essa que possibilita-nos a visitar virtualmente e automaticamente qualquer ponto da esfera global num átimo de segundo á qualquer instante.
Globalização, que proporciona uma interintegração imediata dos mercados internacionais, subsidiando economias, gerando prosperidade.
Mas, avaliemos com ponderação a respeito dos benefícios de tal “evolução” na nação tupiniquim. Quem realmente lucra com a prosperidade desse progresso subsidiado? As crianças das favelas do Rio de Janeiro ou das ruas de todo o país? Os sem-terra do Pontal do Paranapanema e alhures, que alienados e alheios a qualquer desenvolvimento social, são politicamente manipulados, usados como bandeira na derrocada do "bem contra o mal"? Ou a incomensurável massa de desempregados das nossas capitais? São eles minimamente tangidos por essa tendência global irresistível? E o que dizer dos mercados de poder restrito das “pequenas” nações do mundo?
Já no âmbito pessoal, temos através da Internet a possibilidade de acessar -mos á qualquer site ou endereço, adquirirmos qualquer informação que nos for necessária. Disso sabe qualquer criança de classe média de nossos dias, pois se tornou corriqueira nessa faixa da sociedade a aquisição de micro-computadores de ultima geração, essas caixinhas mágicas da qual quase tudo depende hoje. Tanto assim, que um conhecimento no mínimo razoável de informática faz-se absolutamente necessário na qualificação de nossos jovens inexperientes ou mesmo de nossos adultos, profissionais de áreas diversas que em árdua missão “literalmente” caçam e disputam os escassos empregos disponíveis no mercado.
“Decifra-me ou te devoro”. Dizia a Esfinge aos exauridos viajores que cortavam o deserto do Saara. Apresentava assim um enigma aos peregrinos, e se esses não o desvendassem seriam sumariamente deglutidos pela gigante de pedra, com corpo de leão e cabeça de homem.
“Decifra-me ou te devoro” Palavras que parecem ecoar através dos tempos e tocar-nos agora no ocaso do segundo milênio e alvorada de uma nova era. Analogia leviana? Talvez. Mas assistimos a cada dia aos nossos que desprovidos de qualquer recurso, vêem-se infinitamente distantes da poderosa Internet ou da imprescindível informática de um modo geral. Tão pouco podem usufruir uma educação institucional básica, ou nem mesmo podem ter acesso á um simples jornal. Ate mesmo o direito á cidadania lhes é negado. Esses, são então alijados, preteridos, marginalizados, “devorados” pela brutalidade do mercado. Resta a nos, seres semiconscientes, desvendar esse árduo dilema metafísico. “O que nasce primeiro, o ovo ou a galinha?” devem os nossos com -cidadãos tentar por meios próprios instruírem -se sozinhos para que a benevolente globalização os acolha em seu seio caloroso? Ou seria tarefa da mesma soerguer paulatinamente os menos favorecidos, restituindo-lhes o respeito e a dignidade minimamente necessários? O enigma nos é lançado. Cabe a nos respondermos com sapiência após considerável ponderação , para que não sejamos também devorados como partes de uma cadeia inexorável de elos. A resposta me parece óbvia...