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Poesias-->MEUS FANTASMAS -- 12/01/2014 - 22:09 (Sergio Del Picchia) |
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M E U S F A N T A S M A S
Sergio Del Picchia 1996
Estes meus fantasmas do passado
são minhas imagens no presente.
Eles vivem, discutem, se apaixonam,
argumentam, contestam, se convencem.
Para onde quer que eu vá,
qualquer que seja o caminho,
um universo me acompanha.
Qual um imaginário séquito,
almas errantes, erram comigo.
São as imagens do passado,
meus fantasmas no presente.
O passado não se apaga;
ele faz parte da gente,
se incorpora a nossa vida.
Personagens que passaram,
ou imagens que geraram,
se contorcem em paixões,
me defrontam ostensivos,
me consolam compreensivos.
Argumentam, riem, choram,
alternando velhas mágoas
com momentos de prazer
Diálogos inocentes,
ou olhares ocasionais.
Momentos de tensão,
ou choques passionais.
Independente da importância
do instante outrora vivido,
as lembranças do passado
qual fantasmas sorrateiros,
se esgueiram devagar
entre meus pensamentos,
e se misturam furtivos
com os fatos do presente.
Não são anjos nem demônios,
muito menos ninfas ou sereias.
São fantasmas tão humanos,
com paixões tão corriqueiras.
Geram impossíveis diálogos
entre seres que não existem
e dos quais foram criados
em épocas diferentes.
Hoje são eles tão reais,
que se tornaram presente.
Alguns desses fantasmas são poetas.
São eles responsáveis
por alguns bonitos versos,
que de vez em quando
eu recebo já formados
e fingindo que são meus,
simplesmente transcrevo.
Ou então por aqueles momentos
em que frente a coisas simples,
sem aparente motivo, de repente,
eu me vejo emocionado;
e percebo que só um poeta
sussurrando em meus ouvidos,
pode aguçar em meus sentidos
essa emoção diferente.
Outros são músicos.
E deles vem o arrepio
que repentino me corre o corpo,
quando o ar vibra
e o mundo vibra junto,
com uma melodia tocante,
uma simples nota,
ou um acorde imponente.
E não há palavra que descreva
o êxtase que me atinge
e o prazer que experimento.
Mas há também aqueles fantasmas
deprimidos, desgastados, exauridos.
São fantasmas que me cansam
com suas crises sem fim.
É quando a depressão me toca,
e uma tristeza infinita
toma conta de mim.
Vencido, desanimado,
perco o sentido da vida;
não vejo esperança no futuro,
nem graça no passado.
Eles se parecem
com os espíritos críticos.
Fantasmas negativos,
que vêem erro em tudo que faço
e que só estão felizes,
quando estou arrependido,
repassando continuamente
situações ultrapassadas
e ampliando infinitas vezes,
os meus menores deslizes.
E por mais culpa que eu sinta
eles querem que eu sinta mais.
Mas entre meus fantasmas,
há alguns especiais.
São os adolescentes,
me induzindo a fazer coisas
que eu nem sei fazer mais.
Aqueles sonhos inocentes,
momentos de paixão juvenil.
E repentinamente,
me ataca de surpresa
uma vontade inconsequente
de tomar conta do planeta;
corrigir as injustiças
e colocar as coisas nos eixos.
E parece tão fácil,
que por um curto momento
eu não entendo, abismado,
como tudo que me cerca
pode estar tão errado.
Aqueles espíritos rebeldes,
meus fantasmas irreverentes,
me fazem desprezar autoridades.
Entre deboches e ironias
sugerem atitudes descabidas,
e anedotas sutís.
Então me torno irônico,
e rindo de convenções
transformo em piadas
as mais formais situações.
E os filósofos?
Velhos fantasmas experientes;
sábios que me vigiam.
São deles aqueles conceitos,
aquele equilíbrio inesperado,
desprovido de paixões.
E quando menos espero,
em sábias frases singelas,
externam suas opiniões.
São eles que me transmitem
alguns conselhos elevados,
que inesperados me surpreendem,
e antes que eu os entenda
se desprendem de meus lábios.
Eu então me conhecendo
tanto quanto me conheço,
sei que não pode se minha,
tão profunda sabedoria.
Mas sôbre todas as imagens
uma delas prevalece;
uma figura permanente
que não se impõe, mas sobressai.
Uma imagem que não se afasta,
a imagem amiga de meu pai.
Todos os fantasmas
que habitam o meu mundo,
dele tem um pouco.
Em todos eles, ele está presente,
pois esses fantasmas são imagens
de pessoas que passaram,
e eles representam
não o que essas pessoas foram,
mas sim como eu as vi.
E quando com elas eu estive,
os meus olhos já deixavam nessas imagens
as minhas marcas;
e estas já traziam em sua essência
os traços marcantes de meu pai.
Observando distante,
pronto a me ajudar,
agindo sem agir,
imóvel em contínuo movimento,
a segurança que transmite
não está em sua ação
mas sim em sua presença.
A sua figura fala alto,
e não são suas palavras que o fazem,
mas sim o seu silêncio.
Nesta inexorável caminhada
que é a vida - longa viagem
conduzida pelo destino -
a esperança que tenho
de ter servido para algo,
em forma de matéria,
esta minha curta passagem,
é poder continuar existindo
como uma imagem amiga
em algum universo imaginário.
E melhor do que isto,
muito melhor, seria
que o que a figura de meu pai
representa hoje para mim,
eu venha a representar um dia
no universo de meus filhos.
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