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Contos-->Entre a fantasia e o pesadelo -- 14/09/2011 - 17:37 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Casamos e, antes mesmo da viagem de núpcias, fomos dormir no casarão da serra. Seria a nossa primeira noite livres de tudo. No pouco tempo em que namoramos, falamos de sonhos, fantasias e tantas outras coisas interessantes. Teimava em que ela realizasse a minha grande fantasia: para mim apenas um sonho doce, mas, para ela, um purgante amargo demais para ser tragado. Todas as vezes que eu podia, sempre a lembrava do sonho doce que me alimentava como se eu fosse bem menor do que ele. Certa áurea misteriosa fazia meu estômago resfriar e os meus olhos brilharem de felicidade. Desde os meus nove anos de idade que necessitava dele como alguém com sede, da água. De coisa de criança passou para coisa de gente grande.
A casa da serra era escura e fria. Uma mata densa ao seu redor nos proibia de fazer outras coisas mais interessantes do que comer, fazer amor e dormir. Distava algumas centenas de metros da sede do engenho. Apenas na segunda-feira nós viajaríamos para Florianópolis. Até lá, certamente, faríamos muito sexo. A governanta era como a névoa da serra. Pardacenta de sentimentos, ela raramente sorria. Trazia nas mãos uma gentileza exemplar. Servia deveras bem a quem ocupasse a imensa casa para aonde tínhamos ido passar uma chuva, antes da viagem de lua-de-mel. Dela, pouco se sabia, a não ser que era solteira e triste, filha de alemães fugitivos da Segunda Grande Guerra. Isso era tudo!
Possuído por minha fantasia, descrevo-a com a alma excitada e os olhos marejados por um desejo maior do que minha própria alma. Uma loira com aproximadamente um metro e setenta e cinco de altura, lindos olhos azuis, ar autoritário, andar fidalgo, lábios desenhados e de rara perfeição. Seu perfume discreto enchia-me a boca de uma saliva safada, louca para se misturar a dela. Ruth Muller era o seu nome. Frau Muller, como ela gostava de ser chamada. Papai gostava muito dela e algo muito secreto justificava a sua estada naquele casarão há tanto tempo, sem ser cobrada por absolutamente nada.
Eu não me esquecia de minha louca fantasia. Olhava para Hannah e a via realizando-a com a perfeição dos deuses. Excitava-me apenas a pensar que um dia eu a teria realizada. Minha esposa ainda estava reticente, afastada de qualquer concessão a esse respeito. Mas eu jamais desistia de pedir-lhe, custasse o que custasse.
_ Bem que você poderia ceder um pouco e deixar que meu sonho não morresse de tudo. É tão simples fazê-lo...
_Pelo amor de Deus não estrague a nossa Lua-de-mel. Já estou com nojo de você
_Não seja tão radical. Uma odontóloga, doutora em Saúde Pública, cheia de tantos preconceitos, nem cabe existir assim. Devemos ser um casal moderno.
_Pois é! Acho que você está casado com a mulher errada. Lembre-se que eu também tenho sonhos e que torná-los públicos aos seus ouvidos poderia ser traumático à sua alma de homem nem tão liberto dos preconceitos veniais do mundo. Mulher é mulher, homem é homem.
_Diga-me dos seus sonhos, de suas fantasias...
_Pra quê? Depois você iria adoecer. Eles podem ser mais difíceis do que o seu, esse infernal que você tanto tem me cobrado.
E gargalhando foi dormir sorrateira, ciente de que além de ter aguçado a minha curiosidade, havia também me ferido profundo, afinal, o doce do meu era para ela amargo demais para me ser concedido. Demorei, brigando com a vigília, até que meus pés me levassem à cama. Fui seguido de perto por Frau Muller. Senti uma vontade forte de beijar seus lábios, mas, trair Hannah, jamais passara por minha cabeça. Minha doce fantasia não me conduzia por esse caminho tortuoso. O desejo mor dos meus desejos era bem diferente. Fazer algo consciencioso não era traduzido dentro de mim como uma traição. O que eu desejava, passava por seis mãos, dois corações e apenas duas vontades.
Fomos à Florianópolis, curtimos uma semana extraordinária e eu preferi silenciar o outro mistério para não complicar nossa estada na ilha. Quando voltamos para o vilarejo, a nossa vida prosseguiu normal. Ela apressada para engravidar e eu para realizar o sonho fantasiado de amor que eu nutria no átrio de minha mais pura vontade de homem diferente, sensível à beça. Até este Conto me entende. Suas personagens têm vida própria, vontades bem diversas da minha. A Literatura conspira contra os meus desejos e esconde a minha fantasia.
Em junho de 2009 viajamos para Natal. Disse de mim para mais dentro de mim: desta vez não passa. Vou tomá-la de assalto e realizar de uma vez por todas essa tolice. Prometi ir a todos os lugares que ela quisesse. Na primeira noite fomos a um restaurante regional e nos excedemos no vinho. Senti o calor de o seu corpo ajuntar-se ao meu. Aproveitei e lhe disse:
_Ao motel?
_Já!
_Nós dois?
_Vou deixar você realizar a sua fantasia. Não sei com que estômago, mas vou!
_Por Deus?
_Não, por você mesmo. Deus não gosta dessas coisas safadas. Arrume logo o que precisa e não me venha com mais pedido. Alguém bem profissional deve ser chamado. Agora é com você. Não me peça qualquer ajuda nessa empreitada nauseosa.
Gastei todo o tanque de combustível do carro atrás dela, a pessoa desejada para a realização da fantasia e não a achei. As poucas que vi eram intragáveis e até meu corpo não as desejava. Não era uma questão de vida ou de morte. Era uma linda fantasia. Quando eu a olhava ela estava rindo, feliz porque tudo estava difícil de ser conseguido. Cansado aos montes, resolvi retornar para a casa de sua tia e dormir. Não era o meu dia. O caçador não havia tido sorte. Passamos oito dias em Natal. No fim desse mesmo ano, resolvemos passar o réveillon na casa da serra, só nós dois. Fui primeiro sozinho até la para perguntar a Frau Muller o que ela estava precisando. Iria conosco um casal amigo, da Paraíba, conhecido pelos porres homéricos que costumavam tomar. Achei interessante levá-los para não ficarmos tão a sós. Quando cheguei ao casarão encontrei a governanta a chorar. Indaguei acerca do seu choro, mas não tive resposta. Por longas horas pudemos conversar. Soube um pouco do mundo que a cercava entre um silêncio e um mistério. Frau Muller era doce como o meu sonho que cheguei a contá-la.Disse-lhe tudo, absolutamente tudo. Ela me chamou de tolo. Disse que isso era uma brincadeira de adolescente, serviu-me um tinto alemão e me convidou a sentar-se na sala de estar do casarão. Chamou-me de menino. Confesso que adorei o tratamento por ela dispensado aos meus quase cinqüenta anos de idade. Ufa! Depois da conversa que eu tive com ela, nunca mais fui o mesmo. Ela disse-me: se depender de mim sua fantasia já está feita. Tremi do corpo à alma. Frau Muller poderia ser a grande solução para a realização de minha , depois da conversa tida, brincadeira. Pensei então: como dizer a Hannah? Isso era o próximo desafio a ser enfrentado. Frau me proibiu de dizer-lhe qualquer coisa a respeito. Ela mesmo cuidaria de abrir os caminhos e aparar as arestas. Prometeu-me realizar a operação da melhor forma possível. Naquela noite não dormi um só instante pensando na arte que arquitetava dentro da alma. Para onde eu olhava via as duas cumprindo minhas ordens. Parecia que o sonho viraria, enfim, realidade. Retornei para casa, eufórico.
_Estás com insônia? O que está havendo? É com a queda da produção das empresas?
_Nada de mais. Uma indisposiçãozinha qualquer...
_Será mesmo?
Segui à risca os conselhos de Frau Muller e nada disse a ela. Deixei a sua curiosidade auto-alimentar-se e pronto, fui dormir!
O dia sagrado aconteceu no mês de janeiro, acho que no dia vinte e um. Combinei os detalhes com Frau Muller e deixei o barco rolar. Sentamos-nos à mesa de ferro do terraço às vinte horas e começamos a tragar goles fartos de um espumante chileno saborosíssimo. Rubson e Beliah beberam à vontade. Ele logo se embriagou e foi dormir. Sua esposa segurou-se entre eu e a Hannah e soltou-se toda. Senti seus pés subirem sobre os meus, por baixo da mesa, sem que a outra visse. Vi quando Frau, sorrindo, piscou um olho para mim e fez sinal de que eu me comportasse como se nada estivesse acontecendo, deixasse as coisas fluírem naturalmente. Assim eu fiz. Hannah, já de sangue esquentado pelo vinho, via muito pouco do que enxergava. Eram primas, as duas, um tanto coniventes. Lucrei muito com o assédio dela. Houve horas que quase eu perdi o controle e a agarrei.
_Estás pensando que será com Beliah que realizarás a tua fantasia? Cuidado para não cair do cavalo.
_Por que pensas assim de mim?
_Que diacho de fantasia é essa, prima, diga-me...
_Esqueça, beliah, esqueça. Esse louco adora alimentar o que não deve. São coisas de dentro dele.
E após tanta insistência, Hannah contou tudo à outra, que já quase embriagada, ainda apalpou-me nas nádegas. Eu vi então minha mulher encher-se de espanto e de satisfação, apesar de manter-se reticente diante de tudo dito por todos, na produtiva conversa àquela noite.Cumprimentamo-nos e fomos aos quartos. Beliah foi aos tombos. Olhei-a de cima abaixo e não pude esconder o desejo de tê-la ao lado de Hannah, àquela instante, beijando-a ardentemente, tocando-a sem preconceitos, para que o meu sonho doce pudesse enviar-me à lua sem São Jorge. Quando cheguei ao quarto de dormir, a banheira estava cheia dos sais de Frau Miller, Hannah desconfiada a deixar-lhe retirar a roupa. Demorei a entrar, mas consegui ver a alemã alisar-lhe das costas às nádegas correndo suas mãos pelos canais das nádegas de minha esposa. Hannah entrou na banheira e teve seu corpo massageado suavemente pela outra. Entrei no quarto no exato momento em que Frau Miller beijava-lhe a boca, de forma mansa, exalando o perfume de um sabor adocicado. Era no meu sonho nascido sobre o codinome livre, de fantasia. Era apenas isso o que eu queria tanto e que aconteceu com tão pouco. Eu desejava vê-la nos braços de outra, à minha frente, excitando-me de forma pura, onde a traição não fosse sequer cogitada. O pior que justamente aconteceu, foi tê-la perdido para Frau Muller, criando as duas a paixão mais forte que meus olhos já viram em toda a minha vida. Vivi o resto de minha vida entre a fantasia e o pesadelo. Foi-me o preço por ter alimentado aquele desejo. As mulheres parecem saber amar bem mais do que nós homens. Quando trocam carícias tornam-se mais apaixonáveis.
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