O PEQUENO FLOCO DE NEVE
Sergio Del Picchia 1996
A gota da água de chuva
escolhe uma reta como caminho
e chega logo a seu destino.
O floco de neve flutua
e resiste a chegar a seu fim;
traça mil curvas,
sobe, desce, se desvia...
e lá vai em seu tortuoso rumo.
Antes de chegar ao chão,
descreve uma poesia.
A gota da água de chuva,
cumpre logo seu objetivo:
chega ao chão e termina.
Chega ao chão, chega ao fim,
e escoa...
O pequeno floco flutua.
Qual meus pensamentos,
divaga...
Qual meus sonhos
não tem direção.
Se solta no espaço
e simplesmente flutua...
Sobe, desce, por vezes mergulha,
e lá se vai indefinido
num caminho sinuoso sem fim.
Em cada balanço um novo destino;
em cada sonho uma nova paixão.
O imprevisível é seu rumo
e a exceção é a regra
do seu caminho.
Semelhante a gota da chuva
é a vida dos que vivos,
insistem em não viver.
Dos que nas alamedas floridas
dos amplos jardins da vida,
traçam uma reta como caminho
passando sobre flores, folhas, espinhos,
em direção ao fim.
Dos que não conseguem ver
nas pequenas coisas que nos cercam,
na delicadeza de uma rosa
ou na pureza de uma afeição,
uma razão para a vida.
Dos que nunca se deixaram levar
pelos delírios de uma paixão.
É o melancólico existir
dos que pensam que estão vivos.
É a vida vegetativa
dos que morrem
sem nunca ter nascido...
O pequeno floco de neve,
ao contrário representa
a vida dos que nunca morrem.
Dos que conseguem valorizar
cada segundo, cada instante.
Dos que sentem se emocionar
com o vôo de um passarinho
e que com ele voam junto
quando no auge de uma emoção
de repente flutuam no ar
no mágico mundo do sonho.
É a vida majestosa
dos que mesmo depois de mortos
para sempre continuam vivos...
|