As longas tardes
de inverno
em que ela passava
a sonhar,
tecendo fios de cabelo
com pensamentos
de pássaros
Avoada!
DESMIOLADA!
Porque ela era
"meticulosa",
construíra sua doença
com capricho
com diligência
com elegância
na lentidão das horas
e no silêncio dos dias
Construíra a casa
pouco a pouco
degrau a degrau
palmo a palmo
de forma teatral
Tingiu-a de branco
Também de branco o telhado
o céu, a porta
tamanho dez,
infantil,
tijolo de vinil
Construíra sua doença!
E vivia de desmaios
com olhinhos de borboletas
que batiam trêmulos
como pequenos raios
e desvairadas estrelas
Agora, ela levava a doença,
para o médico,
porque queria vendê-la
E ele teria que procurar uma solução
imaginária
para um problema inexistente
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