Lembro-me de que, há anos, recém-chegado a Brasília, levei meu automóvel, um velho e saudoso fusca, ao Coqueiro, o mago das regulagens, e seu jovem filho, que já prometia alçar-se às alturas do profissionalismo de seu pai, enquanto dirigia o veículo, para testá-lo, disse, com toda a simplicidade:
- Dotô, está vendo aquele cara, correu tanto, cometeu suas imprudências, costurou todo mundo e lá está ele cretinamente paradinho, no sinal, esperando, e nós, afinal, chegamos ao mesmo lugar, e estamos só um pouquinho atrás dele e viemos com toda a segurança!
Respondi-lhe, atordoado, pela inusitada observação:
- É, você tem razão, meu rapaz, eles correm, correm, avançam os sinais, ultrapassam indevidamente, fazem suas barbeiragens, põem todo mundo em perigo, por que e para que?
Quanta sabedoria, quanta verdade numa só frase, num só pensamento, simples, sem bordado, sem malícia. Jamais me esquecerei dessas sábias palavras. Tão singelas, mas tão esquecidas por tantos outros.
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