Serve logo essa cachaça! Não tenho pressa pra nada além de lavar minha goela suja. Nunca achei que esta catuta do inferno findasse sede, mas arrasto a vida pra provar que eu tô errado. Bota logo essa dose, galado! Vai fazer doce, é? Aí! Agora gostei. Desce lá um torresmo inteiro pra salgar a boca. O Valcir é que morre pelo torresmo. Então traz logo dois pra fazer elegia ao presepento.
Tô nervoso, não, homem. Só não engulo umas miudezas. Coisa do peito e da cachola, num sabe? Senta aí, homem. É o tempo da poeira amansar e você virar essa latinha aí. Não tomo cerveja, nem. Gosto é da que desce ardendo. A Miza sempre tinha me dito que a vida dela era só pra mim. Agora nem fica mais em casa. Não é caso de cornice, nem. Não sou homem de me abalar. Mulher minha fica vidrada, não quer saber de outro nem que seja com lastro de ouro. A Miza era meu tesouro. Roubei a menina da casa do pai quando ela tinha só uns catorze. Era mulher feita. Olhos pretos do negrume do carvão que em brasa era a cor da boca. Gostava daquele pinica. Traz mais uma, galado. Já deixa essa garrafa aqui na mesa. Moço não toma um gole pra selar a amizade? Acha forte? Vareite! A Miza também acha.
O Valcir era um cabra da gota, parceiro de rolo e revés. Vivia em casa, dupla de carteado, meiando garrafa de café. Nunca deu banda pra Miza. No lero, eles se davam que era que nem irmão. E só. Se não tinha ânimo de truco, naquelas tardes de bode, pegavam numa conversa de miolo de pão, num sabe? Ela mais ouvia que falava: coruja. De tudo desfilava na resenha deles. Coisa que eu nunca nem sabia ou sei encaixar na prateleira da minha cabeça. Nem. Torresmo que tá na demora, galado? Vai matar o bicho ainda? Ah, bom! Agora fico feliz por minuto e meio. Aceita um teco, homem? Tá evitando? Mai!
Deu que, da falação, a Miza e o Valcir foram reto para a coisa do anotar no papel letra e riscado sem ter fim. Ele falava e escrevinhava. Ela só na reprodução mais fiel que podia, mão que tremia no começo. Mês e pouco mais, era a Miza rabiscando o palavrório todo feito com decisão de sobriedade. Rapaz, pinga um limãozinho aqui no toicinho, fio?
E é isso que eu não dou de entender, homem. O Valcir bandeou de vez pra Caicó e a Miza vai todo dia em lombo de mula ou na barca do Seridó pra tomar as anotações com ele. Agora diz que vai num tal de subletivo. Não é coisa de cornice, não. Mas eu tô mordido com o Valcir. Faz tempão que nem vem modular um gordurame com o parceiro aqui. Tô intrigado! E essa coisa de subletivo vai encher barriga de quem? Sei não. Toma um gole dessa aqui, homem? Não. Eita! Parece até que dá o frinfa com essa coisa, hein? A Miza tá me tirando do juízo. Dá até uma sanha de usar canivete que seja pra acabar com a embromação desse tal de subletivo. Miza do céu! Valcir, meu amigo pelego!
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