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cronicas-->Sufoco -- 17/12/2000 - 00:23 (Mastrô Figueyra de Athayde) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"Estou preso e amarrado. Já não sinto minhas pernas, minha respiração esta debilitada. Estou sufocado em meio aos incrédulos do meu passado, angustiado pelo presente e pela incerteza do meu emprego. Quero ar puro, poder me divertir com meus amigos e ter a segurança necessária no meu ofício."
Este texto foi encontrado em uma agenda de couro, datada no ano de 1978, pelo jornalista policial Marcello Luís, na cidade de Hortolàndia. A agenda estava jogada entre um calhamaço de papel nas dependências da antiga estação ferroviária de Jacuba.
O texto surpreendeu o jovem jornalista, que não satisfeito começou a desenvolver o maior trabalho de sua vida até agora: descobrir o paradeiro do texto e seu contexto, tamanha a dramaticidade do relato. Marcello estava perdido. Não havia indícios que pudesse ajudar nesta difícil tarefa. A agenda estava vazia. Não havia nome, apenas a mensagem escrita a lápis.
Dentre os traços mal feitos, um detalhe chamou a atenção do repórter. No rodapé da página estava escrito: RK 3759, o bastante para que pudesse ter o primeiro impulso sobre o paradeiro da mensagem perdida por mais de 22 anos.
Marcello sacou logo de cara que a sigla era de placa de automóvel , o que poderia o levar ao dono da agenda perdida.
O repórter ao realizar um levantamento na CIRETRAN, constatou que o número era de um Fusca, de cor branca, ano 73, de propriedade de Heliomarcos Lopes, na cidade de Campinas. Devido a proximidade de Campinas à Hortolàndia, Marcello tinha a certeza de que as investigações estavam caminhando no rumo certo. Marcello nesta certeza, fez o levantamento do endereço do proprietário do veículo - Jardim Sangay, em Campinas - partindo imediatamente para o seu destino. Encontrar o autor do texto perdido. Ao chegar na residência, o jovem repórter teve a felicidade de encontrar o vendedor aposentado. Heliomarcos informou que o veículo realmente pertencia a ele, mas que havia vendido o carro em janeiro de 1978 e que a documentação não havia sido regularizada. O aposentado ao ser indagado pelo repórter, informou que o carro havia sido vendido para um tal de João Francisco. Esta afirmação caiu como um tiro no escuro. Existem milhares de João Francisco pela região e seria impossível localiza-lo. O repórter ao meio de sua inoperància caiu em um profundo pranto e resolveu tocar a sua vida, voltando para a redação, já que a poucas horas havia acontecido uma chacina no bairro do Matão, em Sumaré. Ao passar pelo local do crime, Marcello visualizou um objeto que fez encher seus olhos de lágrimas: a placa RK 3759, que estava pendurada na parede marcada por sangue. EURECA!!! Era a placa que o levaria para o dono da agenda. No local, em meio a Polícia Civil, encontrou um senhor. João Francisco era seu nome. Marcello mostrou a agenda de couro e o senhor o vê com os olhos cheios de lágrimas. Sem dizer uma única palavra, João retira um pedaço de papel do bolço e entrega ao repórter, sendo o seu último gesto. O senhor olha a agenda e num movimento de instabilidade, solta a agenda, caindo morto no chão. O espanto é geral. Na carta estava escrito. -"Saio do sufoco e entro para a eternidade".
O repórter compreendeu tudo. Desde 1978, João Francisco estava sufocado em seu emprego, com a incerteza diária atormentando e arruinando a sua vida e de seus filhos, que acabaram tomando rumos totalmente antisociais, no submundo das drogas e da criminalidade. Seus filhos estavam mortos no chão, tendo em mente apenas a procura de uma coisa: a paz...

Mastró Figueira de Athayde é cronista e bar man
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