Sangue, vermelho rubro, que corre pelas veias, percorrendo o longínquo corpo, regando todas as raízes possíveis e imagináveis deste ser. O sangue corre, vibra e pulsa, cadenciado pelas batidas do coração. Pulso bomba, respira e sobrevive, se transformando em uma verdadeira sinfonia. O coração é a bateria ritmada, as veias o palco e o sangue é a vida que faz esta mesma orquestra vibrar, sussurrar em uma verdadeira batida contínua. O pulso ainda pulsa e irá pulsar até o fim da vida e o início de outra, que pode ser perfeitamente o ciclo de uma ilusão e o sofrimento de uma certeza. A vida.
Neste ciclo e da continuidade da vida, o pulso é a certeza de estarmos vivos, mesmo que as vezes nos sentimos inertes em um espaço surreal, mergulhados em verdadeiros mar de lama. O homem não pensa, raciocina e neste raciocínio lógico entendemos os passos, as batidas deste pulso, que muitas vezes não são bem esclarecidas, principalmente na questão do amor.
O pulso bate mais forte e dá conotações cada vez mais fortes. A pessoa fica estática, nervosa, o sangue ferve e o pulso pode ser sentido na garganta, apertando as amígdalas e dificultando o engolir da saliva. Já não sinto o meu salivar, apenas o pulso, que aperta o coração. Acho que estou tendo um ataque do coração, um infarto fulminante, devido a minha má alimentação, regado à muita fritura e guloseimas.
O pulso não é ilusão, é realidade. Não enxergo nada. Só vejo vulto e uma luz no fim do túnel. Acho que estou morrendo, mas ainda sinto o meu pulso. Estou vivo, não sinto o meu pulso. Cadê o meu amor? Acho que morri... Não entrei na eternidade, sou uma emacia, não sinto o pulso, estou navegando no turbilhão de glóbulos vermelhos, mesmo assim estou vivo, dentro de uma ampola...
Mastró Figueira de Athayde é cronista e obstetra.
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