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Contos-->A Lenda do Deus e da Bela -- 30/04/2011 - 12:01 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Diz a lenda que ela se chamava Seraphina e era uma bela moça; tinha os cabelos meio acobreados(daí a lenda do cabelo de fogo). Ela constava ser inteligente, preparada e, no entanto sentia-se muito só, pois apesar de ser muito bela, nunca havia conhecido as mazelas do verdadeiro amor. Ela vivia andando nos campos, pedindo às potestades e aos deuses que viesse um grande amor, um homem a quem ela pudesse confiar seus mais íntimos segredos;que viesse um companheiro para suas horas de espera, que surgisse um amigo que fosse bem mais que um deles e que se preocupasse com suas mais nobres causas.
Olhos voltados à esfera da Lua que brilhava no céu, ela fitava e o Horizonte respondia, flertando com ela.
Conta a lenda que, tal era a intensidade de seu olhar, que o Deus da Noite se aproximou e ouviu seus suspiros. Apaixonado, ele sabia que a existência dela seria limitada (pois que era mortal) e a dele, seria sempre um escalar de éons rumo ao Infinito (pois que nunca morrera...). Apiedou-se da jovem e resolveu ajudá-la, perdido por seus olhos e pelos seus cabelos de fogo. Enquanto isso, Josephina suspirava, triste, pois que antes só havia escolhido homens que não estavam à sua altura: Um, lhe prometera mundos e fundos (e fugira num barco para esconder-se na morte escura de uma batalha improvável). Outro, a havia cortejado; belo, porém era casado! Ela desistira de continuar assim que soubera de seu estado. Mais outro a havia decepcionado, profundamente egoísta, só sabia de si.
O Deus da Noite ouvia seus gemidos, suas lamúrias e apaixonado, fazia correrem mais rápido os dias, para que ela se intrigasse e quem sabe prestasse atenção nele; fizera as nuvens se esgarçarem em rápido cortejo, assim que uma lágrima brotou naqueles olhos lindos. Também tornara as noites mais escuras para que ela pudesse, pasma, contemplar a coroa de diamantes que ele lhe prometia se ela viesse um dia, quem sabe, desposá-lo. Sem que soubesse, ela notava o seu contorno, sem que ele o possuísse. Nem ele notara, mas ela às vezes ficava mais só, como que à espera da noite para que seus sentimentos se avivassem e surgisse então a sutil transparência que fazia assim o seu olhar mais claro, sua respiração mais calma e ela então pensava na vinda do amado improvável.
Foi assim, olhando para o céu, recebendo nos cabelos o sopro do deus apaixonado que ela viu chegar o moço alto, vindo das montanhas. Ela pensou consigo mesma na beleza dele, que o fazia destacar-se em meio a tantas pessoas. Poderia achá-lo em meio ao caos! Imaginou que sua doçura poderia ser a mesma que sentia quando, altas horas, recebia o suave sopro no rosto como num beijo efêmero (e era o Deus da Noite que a beijava...) e imaginou como poderia fazer para se aproximar de tal moço bonito. Seria possível que ele a notasse?
Mal ela sabia que ele, ainda que não parecesse, era o Deus da Noite disfarçado de mortal, numa conjuração que fizera com o Deus das Fontes para que pudesse pelo menos se aproximar de tal maravilhosa criatura. O preço cobrado pelo Deus das Fontes era que se ele quisesse continuar naquela forma, teria de ceder parte do céu a ele, de tal forma que, a uma determinada hora que era a hora-que-todos-dormem, ele voltaria a ser essência e dispersaria as belas formas no céu profundo. No entanto, se se esquecesse dessa conjuração, o Deus das Fontes o faria se tornar eternamente mortal e pereceria como o Imortal que era... Ele aceitou o preço pois seu coração rebrilhava de amor por aquela pequena deusa de cabelos acobreados.
Assim, Josephina conheceu Joachim, que andava entres seus pares sorridente e montava tão bem os cavalos que esses pareciam sua extensão, tal era o garbo que o sustinha na sela. Ele, com seu humor, fazia todas as moças se enlevarem, mas ela, ressabiada, percebia que seu melhor sorriso era para ela. Foram se aproximando e ela, nas aulas dos anciãos, sempre que podia, ficava perto dele, para absorver seu perfume e poder aprender mais como a natureza pode ser sábia. Ele, por sua vez, como mortal que era, ainda não sabia de sua real condição de Deus (porque assim que se tornava humano, esquecia sua condição e se tornava presa das paixões terrenas...) e não acreditava que tal formosura se aproximava dele com os olhos mais lindos do mundo perguntando se podia anotar o que ele repetia dos anciãos que ele ouvia atento de tal forma que, um dia, ele sugeriu que se sentasse mais à frente, ao que ela respondeu:
--Tu não notaste, então, o real motivo porque me sento junto a ti?
--Não o disseste, minha cara!
Ela o fêz ver então, num prolongado beijo, que se apaixonara por ele (como se o conhecesse de outras eras...) e ele então correspondera, ao que o Deus das Fontes respondeu, num movimento rápido, que ele se apressasse e o Deus que havia dentro dele, tomado de pânico saíra a correr pelos campos, deixando Josephina suspensa no ar, um grande nó no peito, sentindo-se arrasada (será que cometera um pecado? Saberia ele de seus antigos desencontros? Teria ela ultrapassado um ponto que ela não soubera?)!
Que mal fizera ela?
Foi então que Josephina conheceu o Amor verdadeiro; foi então que Josephina soube que ele a completava mais do que ela sabia de si mesma e também, desesperada, soube que não mais poderia ficar sem ele. Abismado, na solidão de seu mundo perfeito, ouvindo o riso do Deus das Fontes (que se comprazia em olhar a pequenez da existência humana...), o Deus da Noite viu a extensão de seu amor por Josephina, enquanto via o corpo sem alma que corria, já sem sua presença, um fantasma de si mesmo, nos campos da terra ressequida. Foi então que Joachim parou de correr, recebendo uma lufada de vento no rosto e ouvindo o mar rugindo distante (o Deus das Fontes o advertia de sua condição de eterno mortal...); preso de imensa saudade, voltou, montando um cavalo selvagem em pelo, à cidade de Josephina.
Procurou por ela em todas as esquinas e ruas; perguntou pela jovem de cabelos acobreados, eles a conheciam (quem não poderia conhecer tal formosa jovem?). Sim, eles a tinham visto, encaminhava-se para o mar, um a havia visto subindo a montanha do penhasco, outro a havia visto com o olhar triste; mais de uma perguntara a ela o que acontecera e ela, sem responder, desaparecera. Aflito, Joachim foi às pressas em seu encalço. O Deus das Fontes escarpava de enormes ondas o mar revolto; também fazia os rios se tornarem volumosos, dificultando seus passos. Ele, quase sem forças, deixou seu corcel esbaforido e correu, gritando o nome dela à furia do vento que fazia as areias se levantar, numa tempestade inaudita. Ele, que antes fora um Deus, ele que soubera dos sabores da eternidade, agora implorava às trevas que o sugassem ao esquecimento se por acaso a perdesse; nem sequer conseguia imaginar isso!
O Deus das Fontes amainou o tempo. Cessou de rir quando viu inerte o corpo de Josephina. Sequer podia desejar que ela já não pudesse mais ver aquele que se desesperara tanto à sua procura!Não sentiu nenhum prazer em ver o alvo corpo, o formoso corpo de Josephina sem sinal nenhum do calor que maravilhara seu companheiro de Eternidade. Finalmente, ele, que era um Deus, teve compaixão. Afinal, comandava as fontes e pediu a todos os rios que se iluminassem; que o mar se enchesse de algas fosforescentes e que os ventos abrissem as nuvens revoltas para que as estrelas pudessem clarear os caminhos dos dois.
Soprou então, parte da vida do Deus da Noite em Josephina, que acordou de um estranho sonho, e não foi sem surpresa que ela se descobriu nos braços de Joachim, que a beijou terna e serenamente, levando-a carinhoso para aquele que seria seu lar para sempre.

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