Meus sonhos mudos
não têm mais vozes.
Silentes goles
De devaneios.
Carícias plenas,
Gotas serenas,
Correm na pele
Pelos meus seios.
Minha nudez?
Ela é só minha,
Se não me enxergas
Pelas entranhas.
Dona das manhas,
Onça pintada,
Solta no mato,
Boi de piranha.
Não queiras mágoa,
Nem eu de estátua,
Que na verdade,
Eu sou bem sonsa.
E não sou santa
E nem sou tola,
Ou tua rola,
Apenas onça.
Cresci sabida,
Sem lei, nem guia,
Nasci vadia,
pra aproveitar.
Sou hedonista,
Sou alpinista,
Herdeira artista
Do teu cantar.
Já fui cometa,
Arrastei lágrima
na cauda inválida,
Já fui estrela.
De parco brilho,
Saí dos trilhos,
Fui vaga-lume
De outro planeta.
Hoje sou eu,
Que não sou nada,
Menos que nada,
eu sou talvez.
E em minha saga,
Apaixonada,
Sou verme e praga,
Insensatez.
Sou céu e terra,
Sou mar e areia,
Aranha e teia,
Cobra coral.
Se queres muito
Que eu seja tua,
Me prova crua
E sem final.
Lílian Maial
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