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Contos-->Por acaso (Parte I) -- 04/05/2001 - 17:33 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu mesmo nasci por conta de um pneu furado. Não fosse isso o ônibus que trazia meu pai do Norte para São Paulo não teria sido obrigado a parar numa borracharia de beira de BR, que ficava no pátio de um posto de serviços imundo, mal-cheiroso e medonho de tão feio. Viu Dona Alice, ainda moça, servindo pinga e cerveja para caminhoneiros. "Essa é a mulher da minha vida!" - afirmou para o companheiro de viagem. Ela não lhe deu bola mas, mal se passaram três meses, aparece o velho lá no posto, decidido a carregá-la para a capital paulista. Nem passava pela cabeça do meu avô que meu pai teria o atrevimento de seqüestrar Alice. Seqüestrou. E olha eu aqui.

Tudo começou, digo o caso que vou contar agora, por acaso. Era para eu ir ao edifício número 1425, mas a puta da secretária do patrão anotou 452, acho que de propósito. Ela vivia fula da vida comigo porque em matava os passes e jogava fliperama ao invés de fazer o serviço. Ela só não tinha como provar. Então eu entrei no 452 e falei que queria ir até o vigésimo terceiro andar. "Mas aqui só tem doze andares, garoto!" - observou o segurança. "Puta, puta, puta! Posso usar o telefone, moço?" Quase mandei o cara enfiar o telefone lá mesmo, onde você está pensando. Tinha trocado as fichas telefônicas (para os mais jovens, na década de 80 ainda não existia aqui no Brasil os cartões estilizados que vocês vêem hoje) com um camelô da São Bento, por um míseros trocados que se transformaram em fichas de fliperama. Como faria para ligar para a vaca e descobrir qual o endereço certo? Tive a idéia maluca de entrar de prédio em prédio, pelo menos os mais altos, e procurar o nome da firma nas plaquetas do térreo. Entrei no primeiro, nada; no segundo, também; Puta que o pariu! Ao entrar no terceiro prédio resolvi que seria o último. Se acertasse, tudo bem. Se não, voltava para o escritório sob o risco de ser estrangulado pelo Dr. Álvaro que tinha falado que aqueles documentos teriam de ser entregues sem falta. Aproximei-me do balcão da recepção. Olhei para o painel. Nada, de novo. Ao me virar para exclamar um palavrão fui surpreendido por uma visão inédita e fantástica. A porta de um dos elevadores acabara de abrir. Avistei então uma moça linda, cabelos longos, castanhos, pele alva. Ainda não tinha dado pra ver ser era alta ou magra, pois estava sentada. Yes! Era a ascensorista. Olhei de novo para o painel. A porta do elevador fechou. Tinha que ir atrás daquela deusa. Jesus Cristo! Como era linda. Vi o nome de um firma de engenharia. Disse para o segurança que tinha que entregar uns papéis lá. Pra quem? Pro Zé, oras bolas. Toda firma tem um Zé.

- Identidade.

- Tá aqui.

O elevador chegou de novo ao térreo. E aquele analfabeto não conseguia escrever o meu nome. "A-dal-pe-ter-son Pereira dos Santos, moço! Não é tão difícil..." Novamente o elevador se foi. Dez minutos contados no relógio para o cara liberar minha entrada. Foi deixando outras pessoas passarem a minha frente. Fdp! Não entrei no elevador da esquerda, obviamente. Esperei o da deusa. Entrei. Só eu e ela. E eu fiquei bem ao seu lado respirando aquele perfume suave, delicado. Vestia uma saia vermelha nem tão comprida nem tão curta quanto eu desejava. A camisa era meio bege, transparente. O sutiã, ah o sutiã... Uma das peças mais lindas que eu já vi em toda a minha vida. Branco. Cavado. Se eu fosse mulher só usaria sutiãs como aquele. Segurava os peitos robustos. Delicadamente robustos, quero dizer. Nem Pamela Anderson nem Rita Lee, não sei se compreende. De responsa. Vigésimo andar, por favor! Ela apertou o botão 20 e voltou a lixar as unhas. Nem me olhou. Mas também eu estava muito mal vestido. Era olhar para minha cara e falar "Boy. Office-boy, esse cara." Quando o elevador parou eu levei alguns segundos até dar o primeiro passo.

- Não vai descer, rapaz?

Foi a primeira vez que ouvi aquela voz singela, perfeita. Era síntese da perfeição, a Carolaine - vi no crachá. Dei um sorriso amarelo. Desci. Fiquei enrolando uns minutos, disfarçando para ninguém me expulsar. O coração batia acelerado. Eu queria vê-la. Mais: tocá-la, abraçá-la, despi-la. Fazer amor com aquele monumento duas horas seguidas. "Sem tirar!" - como vivia dizendo seu Carmino, cinqüentão amigo do meu pai que vivia contando vantagem no bar do Joelmo. Então apertei o botão para descer. O elevador do meio não vinha. Esperei mais um tempo. Só os outros dois. Que porra é essa? Ficar e esperar ou ir em outro elevador? Talvez fosse hora do lanche da deusa. Entrei no da direita. Chegando ao térreo avistei a placa: "Em manutenção". Pelo menos naquele dia, não vi mais Carolaine.
x x x

(Continua na próxima semana)
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