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Contos-->Ele mesmo em carne, osso e suco de pixe -- 10/04/2011 - 16:58 (Sérgio Olimpio da Silva Viégas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A lei seca tem feito muito bem para a minha saúde, meu bolso e o bolso do Dornelles. Para a minha saúde pela caminhada, se vou tomar uma taça de vinho, vou a pé. Indo a pé economizo Diesel, também dificilmente vou até o Saaras Bar, distante doze quadras da minha casa, preferindo o bar do Dornelles bem mais perto. Assim ajudo o bolso deste.
Ao passar pelo salão principal, vejo alguns jovens e um casal tomado sorvete além do Capitão Lagges acompanhado de outros dois, desconhecidos meus, sentados na mesinha ao lado da cortina de separação dos salões. Instintivamente, como sempre, vou sentar-me na mesa contígua à cortina. Não que goste de ouvir a conversa alheia, mas é bem divertido a gente aumentar os conhecimentos sobre os fatos e pessoas. Quando sentei ouvi o Capitão Lagges dizendo:
... Foi em fevereiro de 1995, eu ainda estava na ativa e fui convidado por ele para uns dias de praia na colônia de férias do Sindicado dos Rodoviários do Rio Grande do Sul.
Lá encontramos o José Martin von Bormman, da residência de Vacaria, o chefe da linha permanente na residência, velho amigo e companheiro do Mac Millan, Francisco Carlos Mac Millan. Tão racista quanto este. Para eles, negros, judeus, índios e outras tantas raças não passavam de mero aborto da natureza.
No segundo dia de estada chegou um casal de negros. Elegantes, finos bem perfumados. Ela grávida e com uma filhinha de uns dois três anos. Em seguida fiquei sabendo serem três anos, realmente.
Estávamos os três tomando chimarrão, na sombra da frente da casa, quando eles os três passaram cumprimentando-nos cordialmente e, provocando a seguir logo que se distanciaram os comentários de Bormman:
Esta negrada vai emporcalhar nosso mar daqui à Praia do Cassino.
Nós estávamos em Arroio do Sal.
Tornou-se corriqueira, a sua passagem a caminho da praia.
Uma tarde estava eu e a Núbia - minha esposa - na praia, quando Alvarina, a dita esposa, aproximou-se dela e, permaneceu um largo tempo batendo conversa com isso eu e o marido também nos aproximamos. Apesar das Criticas de Frâncico Carlos e da Marielena sua esposa, eu e a Núbia iniciamos a freqüentar junto com eles a praia. Ele sabia que eu era militar e eu onde ele trabalhava. Mas nunca me interessei em saber se era engenheiro, patroleiro ou motorista, ele era o Ilo e eu o Lages.
Ele a caminho da praia, para contrariedade dos anfitriões, gritava da frente da casa:
“Núbia bota esse milico preguiçoso para fora de casa. È hora de ir à água”
Uma tarde quando estávamos sós a Núbia, Nublei – mossa netinha - e eu, chega o casal trazendo o convite para a festa de aniversário da filhinha deles. Uma oportunidade de tomar cerveja de graça. Não importa a cor de quem vai paga-la. Transmiti o convite aos nossos anfitriões ouvindo o desairoso comentário:
“É bem capaz de eu enfiar-me numa festa de negro.”
Durante a semana pouco encontramo-nos na praia, porém uma coisa intrigava-me, pelo movimento das Veraneios chegando carregadas de comes e bebes:
Este negro não é “Merda de Qualquer Bicho”
As caminhonetes da empresa com motorista dela, andando para baixo e para cima a serviço da festa de aniversário de uma criança? Nada comentei com os outros dois. Na sexta feira, quando eu voltava da praia, passei pelo Ilo trocamos um rápido cumprimento acompanhado da cobrança:
‘Milico’ tu não vai deixar de aparecer lá na festa nem tu nem a Núbia e, muito principalmente a Nubiele.
A Nubiele a Francesca - neta de Francisco Carlos- e a neta de José Martin, Rafaela, formavam um triozinho medonho e inseparável. A ponto desta ultima ter praticamente se mudado para a casa onde estávamos hospedados.
No dia da festa, lustrei meus borseguins, atrelei a mulher mais a neta e, enveredamos em direção a festa. Tudo estaria justo, quase beirando a perfeição, se a netinha não houvesse arrebanhado as outras duas.
Quando se deram conta do fato, as outras duas vovós foram buscar as netinhas, porém acabaram ficando na festa. Por sua vez, pela demora de retorno, os maridos, José Martin e Francisco Carlos, resolveram ir buscar as esposas e as netas, não conseguindo, por sua vez, também escaparem da festa.
Contrariados ou não formamos uma grande mesa, eu como já disse, para mim tudo corria as mil maravilhas. Os anos de caserna ensinaram a não notar a cor das pessoas. Na Marinha e no exercito negro ou branco é tão soldado um como outro. Mas para aquela dupla não.
Estávamos lá. Eles traçando comentários cochichados, racistas e, eu na minha só escutando. ‘Escuitando’ como dizia ‘o velho Celestino Bombachas’. Quando o anfitrião pediu licença e encostou uma cadeira conosco.
A seguir perguntou onde trabalhavam os ‘Colegas’
Recebendo as resposta que:
José Martin era o chefe da via permanente em Vacaria e, Francisco Carlos, encarregado da Tesouraria em Cruz Alta. Tudo teria ficado muito bem se Bormman houvesse permanecido de boca fechada, mas, ele não ficou. Ele tinha de perguntar. Ele teria um orgasmo se o negro respondesse ser varredor e, perguntou:
Tu onde trabalhas?
Naquele momento lembrei-me do poema de Neimar de Barros. “Deus Negro”
Eu sou o Doutor Ilo.
Brancos como uma cera ou como se tivessem sido sangrados até a ultima gota de sangue ambos gaguejaram tentando formular a temerária pergunta. Eles não conheciam o homem, porém pior eles sabiam de cor e salteado a quem pertencia aquele nome. Mera coincidência?
O...?
Sim, eu sou, em carne osso e suco de pixe, o Superintendente Estadual do Departamento.
Ali na frente deles estava o grande chefe.
Em vão quatro mãos tentam abarcar o saco do homem. Não só na festa como nos dias subseqüentes, com este sempre mantendo uma cordial distancia.
Sobrou para mim. Quase me esfolaram vivo, por não ter-lhes avisado quem era o homem. Nunca me passou pela cabeça, como já disse antes, perguntar ao homem onde ele trabalhava. No entanto, para eles, eu tinha de saber que ele era o seu chefão maior.
Que culpa tinha eu se eles não sabiam quem era o chefe deles. Na caserna aprendi que tenho de conhecer o meu comandante até nu, se for o caso.




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