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Contos-->O Bebado no Juri -- 04/04/2011 - 08:19 (Sérgio Olimpio da Silva Viégas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Dr Jacaré deve ter morrido sem nunca ter sabido exatamente quem eu era ou jamais contar-me-ia o que me contou naquela tarde de inverno.

Naquela noitinha, ao subir da Grazziotin, onde deixo a F1000, a caminho do Bar do Dornelles. Sem qualquer motivo, ao invés de subir pela Andrade Neves como sempre faço, eu subi a Venâncio Aires, dobrando na Presidente Vargas para na quadra seguinte entrar na Pinheiro Machado, Na passagem pela frente da Lancheria Taquarão eu vi o Pimenta procurando pelo Dr. Jacaré.

Dr Jose Pedro Karlan Martins, “O Jacaré”, grande tribuno, uma figura lendária do tribunal do Júri, as histórias dos seus Júris deverão descontrair as aulas dos meus bisnetos, caso venham a serem estudantes de direito, era o Presidente do PMDB, quando da eleição de Antonio Brito, para governador. Era freqüentador assíduo dessa lancheria. O seu “Quartel General” político, onde sempre jantava cercado de correligionárias, no entanto, quando necessitado de um pouco de isolamento ou para fugir de algum inconveniente, como nessa noite, refugiava-se neste recanto do bar ( já descrito “Em Conversa Entre Lésbicas”)

Ao entrar no bar avistei-o e por ter uma cadeira vaga na sua mesa, sentei-me com ele e, antes de ter servido o meu vinho, o Dornelles sabe o que cada um faz e o serve sem pedir, a exemplo do seu Nabor que antes de sentar-se já lhe é servido o Wisk e o cigarro, eu lhe disse quem vira perguntado por ele. Recebendo o seguinte comentário:

“Aquele rapaz anda achacando-me a paciência, querendo algo impossível. Imagine um mero operador de subestação querendo ser chefe de serviço de manutenção. Alega como justa a sua nomeação por filhado ao partido eleito e como tal dono de todos os cargos da CEEE,. Principalmente pelo cargo estar, hoje, sendo ocupado por alguém apartidário. Alguém, quem sabe. Anti-Brito ”

Eu estava bem interessado na história, o detentor do cargo em epigrafe era eu. A conversa foi interrompida pela chegada do Amarante ficando adiada para uma próxima oportunidade.Ele vinha com um assunto capaz de fazer o Dr. Jacaré abandonar até a refeição. Um dos seus grandes júris. Ele adorava saborear as suas grandes e fantásticas vitórias jurídicas. Nem que no fim ele dissesse:

“(..)Claro que eles tem de recorrer. O resultado foi totalmente contrario as provas dos autos. Onde já se viu legitima defesa com cinco tiros nas costas?

A partir da troca de partido do governador Jair Soares, quando eleito pela Arena, com o evento da criação do PFL passa para o recém criado partido, cresce gradativamente a influencia e os desmandos dos partidos dentro da CEEE, culminando com casos como o Engenheiro Porteiro em Pelotas ou o Delegado Sindical de gerente numa outra gerencia ou, o encarregado do abastecimento de veículos guindado a Gerente em Santo Ângelo.

Com a chegada do Amarante o Dr Jacaré passa a discorrer sobre tal júri. Sobre como a arrogância de um promotor jogou fora um júri ganho. Ele adorava comentar as suas ganhadas e de outros advogados, em cima dos promotores. Como bem mais tarde ele comentou comigo e o meu filho sobre um júri dele onde procurou fazer acordo com a promotora dizendo:

(...) Doutora quem sabe a gente faz um acordo? A senhora vê! “Eu tenho muitas horas de tribunal de júri e, sempre pode haver surpresas”

Ela não aceitou. E deu uma absolvição absurda.

O escândalo do engenheiro Porteiro em Pelotas foi matéria de jornais e televisão. O engenheiro Pinto, fora guindado para o cargo pelo PDT, no governo Colares. A turma do PMDB, entre eles o Eletrotécnico João Luiz, candidato a gerente por este partido no Governo Pedro Simon, foram asilar-se na oficina de transformadores e a agora retornavam. Alguns organismos da CEEE, a exemplo do CROM Metropolitano serviam de asilo para os caídos. Em Pelotas a oficina dos Transformadores,bem como o SAMF, órgãos independentes da Gerencia, eram os pontos de quarentena temporária até a nova troca de partido governante para os afilhados políticos. O engenheiro Pinto, ao deixar a gerencia, tirara férias vencidas e agora para o retorno era aguardado com o troco. Contou-me José Francisco Colvara que o autor da idéia fora João Luis. Acontece que a noticia vazou e, na hora dele abrir a porta la estavam a RBs, o Diário Popular e outros meios de comunicação.. Quem pagou foi gerente recém nomeado, ausente em viajem e inocente. Foi destituído do recente e tão almejado cargo

Eles vão saindo enquanto com os vapores do vinho subindo para o teto de minha retorta mental comecei a lembrar outras histórias de júri e cavalos do doutor. O Homem, segundo comentavam, capaz de comprar um motel para transformá-lo em cocheiras ou de trocar um jogador de futebol por um cavalo. Algo absurdo para os aficionados do futebol, para mim o cavalo e o jogador são a mesma coisa. Objetos de apostas. Peço ao Dornelles uma caneta e ataco os guardanapos de papel da mesa, na ânsia de transmitir aos meus leitores,”O Júri do Bêbado” contado, por ele, em uma outra vez aqui, mesmo nesse mesmo bar nessa mesma mesa.

Era um daqueles júris pesados, acontecido lá em Giruá, onde qualquer erro, da defesa, da acusação ou erro de ninguém a o fiel da balança penderia para o outro lado. Não me recordo se ele falou no crime e, se falou esqueci. Casa cheia. Corpo de jurados, totalmente, masculino. Homens de ilibada moral. Diante da delicadeza da situação, para acabar a acusação, o promotor tira um “Às da manga do casaco e joga-o com força sobre o pano verde” O advogado de defesa é o Dr. Hélinho reconhecido alcoólatra da cidade e, fecha sua preleção dizendo:

“Excelências, como os senhores poderem absolver um homem que com o crime do porte por ele cometido, como acabo de lhes provar, pode entregar sua defesa a um borracho como o Dr. Helinho? Quem dos senhores alguma vez, nas vinte e quatro horas do dia teve a oportunidade ou, a felicidade de encontrar o Dr. Hélinho sóbrio? Para alguém contratar esse borracho só sendo tão borracho quanto ele. Eu me sinto envergonhado de vir ao tribunal do Júri, uma das instituições mais serias e respeitável do direito, confrontar-me com alguém quase caindo de tão bêbado. Será que ele conseguira falar de pé ou terá de escorar-se em alguma coisa para poder equilibrar-se?”

Na defesa,. Dr.Hélinho que anteiromente apresentava alguns sinais de embriagues agora traz bem visíveis tais sintomas, até com a língua ligeiramente travada. Apresenta uma rápida, sofrível e fraca defesa. A condenação é inevitável. O promotor nada mais tem a fazer. Mas ele queria fazer.

Dr. Galdez de Campos Álvares e Almeida, não sei se as pessoas vão ser promotores de justiça pelo nome ou se, o trocam depois, mas, é relativamente comum os promotores terem nomes pomposos, cometeu seu grande erro. Ele não estava satisfeito com a humilhação aplicada a aquele pobre bêbado ele precisa “Chutar o Gato Morto” e voltou desnecessariamente na réplica. Dedicando esse espaço mais para criticar o estado de embriagues do advogado do que trabalhar a acusação.Tem pessoas nascidas para se sentirem superiores até pelo simples fato de não fumarem, como o caso de Aslei Fernades que prevalecia-se dos menores, na Escola Técnica de Pelotas, batendo-lhes quando os encontrava fumando. Até por ter como certa a condenação do réu, não teve a mínima consideração para o colega, não lhe poupando elogios desairosos. Isso foi o legitimo suicido jurídico.

Meu filho advogado, sempre diz, quando se comenta casos semelhantes:

“Não chutes o gato morto que ele pode miar”

Dr Hélinho volta na tréplica, ainda apresentando os visíveis sinais de embriagues, mas a medida que vai falando, a sobriedade vai crescendo com visíveis melhoras na sua eloqüência:

A Bebida! Quem não sabe ser esse o meu mal? Pessoalmente creio ter tido mamadeiras de cachaça ao invés de leite. Cada um tem seus defeitos, alguns visíveis como o meu. Outros muito piores e ocultos. Será que o nosso digno promotor não é portador de nenhum? Nem por isso o Dr.Galdez precisava humilhar-me, Eu só estou aqui humildemente tentando fazer o meu trabalho. O réu não era eu e ele, praticamente para o beneficio do meu cliente, dedicou seu precioso tempo só para acusar-me.

Corta os apartes do Dr Galdez dizendo:

Eu em nenhum momento apartei-o agora não concedo apartes.

Recebendo a resposta;

Não me aparteou por não querer, ou por estar borracho demais para ouvir minhas palavras.

Não importa a palavra esta comigo e não dou, em hipótese nenhuma, aparte e, na próxima tentativa retiro-me anulando assim o júri por cerceamento da defesa.

Virando-se para o juiz, mediante nova insistência do Promotor:

Excelência queira me garantir a palavra.

Bêbado era Julio Verne, o homenageado na pessoa do seu neto, no dia da primeira alunagem por Neil Amstrong.

Bêbado era Dom Pedro Primeiro como também o era Wiston Churchil o homem que perdia as batalhas, mas, ganhava as guerras.

Bêbado será que Jesus Cristo não o era? Se não o fosse não teria transformado água em vinho Muito pelo contrario teria transformado o vinho em água.

Bêbado deveria estar Tiradentes quando liderou a inconfidência mineira.

Bêbado deveria estar o Príncipe Regente ao desembainhar aquela espada. Só estando muito bêbado para não medir as conseqüências, a exemplo de Tiradentes, que tal atitude poderia provocar.

Bêbado eu compareço a este tribunal de júri, pois somente bêbado para enfrentar a infâmia deste júri. Um indiciamento e uma acusação absurda, baseada em fatos abstratos. Quem indiciou e quem apresentou denuncia contra este pobre réu só poderia estar muito mais embriagado que eu estou neste momento para não enxergar a monstruosidade cometida neste processo. Excelências eu não consigo entender como os senhores não aproveitaram o intervalo para emborrachar-se e só assim continuarem a ouvir a injustiça e a infâmia, cometida nesse processo contra esse pobre réu.

O grande poeta Omar Kayan ao chegar a presença do Xá da Pércia dizia-se estar sob os vapores do vinho mais assim mesmo queria oferecer-lhe a única prenda que um poeta poderia oferecer. Senão um poema. Quinze minutos de tréplica e seis a um a favor da absolvição


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