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Contos-->CONVERSA COM UMA BONECA DE PANO VI -- 28/03/2011 - 11:26 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já te falei sobre aquela mulher que me apareceu em estado amnésico, aquela com quem me deparei nos tempos de faculdade, lembras-te? Também te disse que fizemos amor antes de deixá-la sozinha em casa, e quando retornei, ela simplesmente havia sumido.
Vitória, cinco anos depois, reconheci-a numa grande praça acompanhada por uma criança. Cheguei mais perto e pude observar que aquela menininha tinha alguma semelhança comigo, principalmente, o formato do meu nariz um tanto arrebitado. Alegremente a criança brincava com sua mãe que nem se apercebeu da minha presença a cinco metros de distância. Eu estava atordoado, estático, olhando feito um bobo para a criaturinha. Deu-me vontade de chorar. Tentei aproximar-me e disse à mulher: oi! Ela olhou-me indiferente: oi!
E pronto. Prosseguiu brincando com a menina. Eu falei: é sua filha? Ela respondeu: é. O nome dela é Gabriela. Voltou-se para a filha: Gabi, diga alô para este senhor. Gabi olhou-me, prazenteira, com um brilho nos olhos: alô!
Eu quase chorei. Respondi: alô! Você é linda. E ela: tô brincando com mamãe. Quer brincar também?
Vitória, a mulher não me reconheceu. Fiquei sem jeito e não sabia como entabular uma conversa. Disse-lhe que a conhecia de algum lugar, respondeu que não me conhecia. Aí chamou Gabriela e afastou-se.
A menina era minha cara, Vitória. Somente ela sorriu pra mim e disse: tchau. Meu coração ficou despedaçado.
Muitas e muitas vezes retornei àquela praça, mas em vão. Nunca mais voltei a vê-las. Porém uma coisa te digo: aquela menina é minha filha.
Para te falar a verdade, desconfio que, além de Gabriela, tenho mais outro filho ou filha. De Leonora. Ela partiu grávida. Também te contei essa história. Naquela época, eu tinha dezessete anos quando nos encontramos pela última vez. Suas palavras ainda ecoam em meus ouvidos: estou grávida... mas não quero casar com você só por isso. Foi assim mesmo que ela falou. Hoje, com quarenta e oito anos de idade, se o rebento chegou a nascer, estará com mais ou menos trinta anos.
O motivo que me leva a conversar sobre essas coisas, talvez seja resultado do sonho, um sonho esquisito que tive essa noite: Leonora, a minha Leonora de minha juventude, com uma criança de peito em seus braços, surgiu diante de mim, postou-se ao meu lado e, de vez em quando, devido ao seu movimento oscilatório ao acalentar o bebê, o corpo da criança roçava meu braço. Disfarçadamente, afastei-me um pouco, na tentativa de evitar o incômodo atrito, mas ela, automaticamente, acompanhou o meu movimento, e assim conseguiu frustrar minha intenção. Resolvi então puxar conversa com Leonora, virando-me de frente para ela - nem me recordo mais sobre o que conversamos - mas só sei que me livrei definitivamente daquele tormento.
Em certo momento, pedi-lhe que me deixasse segurar um pouco a criança, ela colocou-a em meus braços, o que me causou um bem-estar paternal fazendo-me relembrar o tempo em que embalava os meus irmãos mais novos. Mas o que aconteceu em seguida foi bastante estarrecedor: Seu corpo, num processo paulatino, começou a desmilinguir-se, e decompor-se em minhas mãos. Percebi então que estava reduzido a uma pequena posta de sangue que eu, profundamente nauseado, cuidei de devolvê-lo a Leonora que, ato contínuo, esfregou em minha jaqueta aquela gosma repugnante, enquanto dizia quase aos gritos, apontando para mim: essa criança era sua; por isso cheguei a esfregá-la em você para que sinta o quanto perdeu e continua perdendo. Ergueu as mãos segurando a coisa, e continuou: aqui ainda há vida, e se você tiver a coragem e persistência de um vencedor, poderá recomeçar e auferir muitos trunfos com isso aqui. O inconcluso jamais será realidade. Arremessou em meu peito o resto da posta de sangue, e desapareceu enquanto eu me recompunha do sobressalto. Acordei apavorado e fiquei a pensar naquele sonho esquisito, então me veio à mente esses pensamentos que ora extravaso junto contigo.
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