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Cartas-->Aos fumantes -- 28/12/2003 - 18:33 (Fernando Tanajura) |
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Para curtir com um bom cigarro ou com um perfumado charuto, três poemas de Álvares de Azevedo:
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SONETO
Ao sol do meio-dia eu vi dormindo
Na calçada da rua um marinheiro,
Roncava a todo o pano o tal brejeiro
Do vinho nos vapores se expandindo!
Além um Espanhol eu vi sorrindo
Saboreando um cigarro feiticeiro,
Enchia de fumaça o quarto inteiro.
Parecia de gosto se esvaindo!
Mais longe estava um pobretão careca
De uma esquina lodosa no retiro
Enlevado tocando uma rebeca!
Venturosa indolência! não deliro
Se morro de preguiça... o mais é seca!
Desta vida o que mais vale um suspiro?
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SONETO
Um mancebo no jogo se descora,
Outro bêbado passa noite e dia,
Um tolo pela valsa viveria,
Um passeia a cavalo, outro namora.
Um outro que uma sina má devora
Faz das vidas alheias zombaria,
Outro toma rapé, um outro espia...
Quantos moços perdidos vejo agora!
Oh! não proíbam pois ao meu retiro
Do pensamento ao merencório luto
A fumaça gentil por que suspiro.
Numa fumaça o canto d alma escuto...
Um aroma balsâmico respiro,
Oh! deixai-me fumar o meu charuto!
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TERZA RIMA
É belo de entre a cinza ver ardendo
Nas mãos do fumador um bom cigarro
Sentir o fumo em névoas recendendo,
Do cachimbo alemão no louro barro
Ver a chama vermelha estremecendo
E até... perdoem... respirar-lhe o sarro!
Porém o que há mais doce nesta vida,
O que das mágoas desvanece o luto
E dá som a uma alma empobrecida,
Palavra d honra, és tu, ó meu charuto!
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[Álvares de Azevedo - in Lira dos Vinte anos - L&PM Editores S/A - 1998]
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