Eu faço arte com pedaços de tijolos, como se fosse o meu cérebro.
Eu faço versos com as lágrimas que sobram
como uma criança que desconhece as cores.
Eu jogo tinta e letras num páinel ou numa [lousa
como se fossem projéteis
trato com fúria na incompreensão
como se fossem afetos.
Eu vivo os sonhos como se fossem concretos
Eu pinto quadros como se fosse Wagner
Crio sonatas como se fosse Cézane
Aí eu vejo que sou tão adulto
como qualquer petiz
e ainda duvido do que o ouvido me diz
que sou um eterno aprendiz.
Eu escrevo páginas e mais págins tão úmidas
e impregnadas de ansiedade
como que jogando a argila sobre a taipa
pra apagar a minha ira
pra esquecer meus desafetos
pra amar as minhas teses que os críticos não [amaram
e eu vejo amarelando no fundo de uma gaveta,
pra beijar a minha amada
que esqueci de admirar
e o mundo admirou mais que eu.
Eu me dispo em um canto do meu quarto
e me vejo no espelho
dos olhos de minha amada
e não num vidro polido
que não tem voz nem ouvido
e nada pode dizer do que é correto
ou errado
não contracena comigo
não ouve o meu monólogo
não censura, só reflete
uma imagem distorcida
em que não sei se sou eu,
o meu ego ou superego
Quem será?
JOEL DE SÁ