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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Esse gosto de sabão da boca -- 19/11/2016 - 12:07 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Por conta da crise econômica a vida da família da Amélia virou um pandemônio. A harmonia que reinava cismou em se afastar. Com o dinheiro curto as contas começaram a atrasar; as preocupações não deixavam os sonos serem reparadores.

Zé Morcego perdeu o emprego e a prestação do carro estava atrasada. Amélia foi removida da gerência do hotel para um cargo inferior, ganhando a metade... A empresa alegou contenção de despesa.

Num instante a bonança se transformou num furacão. Como de costume todos foram passar o domingo com a mãe. Só que naquele dia tentavam ignorar os problemas para poupar a mãe.

Findo o almoço, D. Dália pediu para não se levantarem da mesa. Ela gostaria de conversar com todos. E começou...

“As refeições a mesa deixam a família mais unida. Em torno desta mesa tivemos muitos momentos felizes e algumas discussões acaloradas. Não adianta tentar esconder, estou vendo a tristeza na cara de vocês, estamos todos de farol baixo. Não vamos perder para essa crise, não vamos ficar de mãos atadas. Vamos vencê-la com trabalho, oração e união. A pessoa que trabalha fala com Deus, a pessoa que ora Deus fala com ela.”

Camélia, olhos verdes flamejando, comenta:

"Mãe, tudo o que a senhora está dizendo é verdade, mas não podemos nos esquecer que a crise que se instalou se deve única e exclusivamente a irresponsabilidade dos políticos, embora tenhamos enorme parcela de culpa pois somos nós quem os colocamos no poder. Mesmo assim, não podemos ser coniventes com tudo isso. Precisamos assumir uma postura mais reflexiva e fiscalizadora. Somos as vítimas e não deveria caber a nós, a totalidade do sacrifício para sairmos do buraco que se abriu em nossas vidas. Sucedem-se os governos e isso não se modifica, provavelmente por sermos um povo pacífico. Mas passividade e ignorância são coisas muito distintas. Até quando sofreremos sozinhos as consequências dos desmandos? Precisamos mudar essa mentalidade conformista e a conduta de abaixar a cabeça eternamente como se assumíssemos a culpa pelos erros alheios. Claro que temos que nos unir para vencermos este momento difícil. Mas não devemos calar nossa voz. Embora o que vou dizer seja uma frase feita, lá vai: “Só fazem com a gente aquilo que a gente deixa!... E até quando deixaremos?"

D. Dália retomou a palavra.

“As abelhas e as formigas ainda existem porque trabalham em coletividade. Vamos fazer o mesmo. O salário de Jacinto está atrasado há três meses e Tulipa Lopes está com uma virose mais braba que a fala de Camélia. Amélia você compra os remédios dela?”

“Claro que sim mainha, com o maior gosto.”
"Rosinha, quando acabar sua licença maternidade você procura outro emprego e
coisas vão se resolvendo. Ok?”

"Não D. Dália, a senhora me desculpe mas pretendo amamentar Tulipa por bastante tempo. Já estou me organizando para dar aulas particulares até que as coisas fiquem mais tranquilas em casa. Amamentar minha filha é algo que não abro mão. Conciliarei as duas coisas."

“Açucena está sem o material escolar. Eu pago os estudos dela com a pensão que recebo da Previdência. Amélia, qual mesmo aquela música que fala dos amigos? “

“Mainha, é a Lista, de Oswaldo Montenegro.”

“Sim. Canta aquele pedaço que eu gosto!”

“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...”

“Percebem que já tivemos vizinhos maravilhosos, colegas de viagens e de escola? E realmente, quantos deles ainda fazem parte da nossa vida e com quantos deles conversamos nos últimos meses? Vejam que nesta mesa estão os nossos mais antigos amigos. Já passamos por muitos momentos de alegrias e de lágrimas, mas somos os únicos que continuamos juntos... Essa estabilidade é o que diferencia a família dos demais companheiros de saga. Não vai ser agora, numa crise passageira, que não vamos nos dar a mão. Vamos nos levantar desta mesa cada um assumindo o que pode. Não vamos fazer o impossível, mas não deixemos o possível escorrer por entre os dedos. Não adianta fazermos que não vemos que os nossos amados estão em dificuldades. Se cruzamos os braços choraremos todos.... Eles, por não darem conta sozinhos do problema. Nós, por remorso de não arregaçarmos as mangas.”

"Mainha, nessa música que a senhora tanto gosta tem uma frase que diz:

“Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar...”

“Não podemos desistir de sonhar com um mundo melhor por covardia ou omissão. Não podemos restringir nossa ação apenas ao redor desta mesa. Tem que sair pela porta e ter voz. Alcançar bem mais além.”

“Você tem toda razão minha filha. A crise existe e vamos enfrenta-la. Ela não pode ser maior que esta família, maior que o amor que nos une. Vamos nos dar as mãos, fazer uma oração, quem sabe fazer a nossa lista pra tirar ‘esse gosto de sabão da boca’.”







Colaboração: Ângela Fakir e Jeanne Martins.
Desenho: Ângela Fakir
http://riscoserabiscosangelafakir.blogspot.com.br/
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