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Artigos-->Homo Normale -- 21/01/2003 - 16:35 (ARTUR MARCIANO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Homo Normale

“A tolerância para com os defensores de opiniões opostas em questões religiosas está tão de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo e com a razão pura da humanidade, que parece monstruoso que os homens sejam cegos a ponto de não perceberem a necessidade e a vantagem disso diante de uma luz tão clara”.

John Locke – Carta sobre a tolerância.

“Merh Licht!” [Mais Luz!]

Wolfgang Goethe, em seu leito de morte.



Às manifestações de intolerância religiosa observadas dia-a-dia, são dadas como causas, quase sempre, fatores históricos e étnicos, mas há algo de subjacente, que perpassa a tais fatores: a presença, em todas as civilizações, do Homo Normale. Este é o agente social caracterizado pela resistência (e mais além, o ódio) em aceitar o outro como um diferente, um alheio de fato, em suma, não admite a alteridade.

Princípio em todos os fins, seu caminho é fácil de ser traçado na História – com as mãos sujas de sangue e o olhar eterno de um louco em transe extático – é o responsável pelo rubor de todos os sonhos humanistas, por ter dado ao Homem o estigma de monstro. Raça de Cain, trouxe ao mundo espetaculares massacres e construiu monumentos com os ossos daqueles – partidários ou não – que hesitaram diante do ato heróico e insólito de apunhalar-lhe as costas: Ave Brutus!

Devemos à Revolução Francesa a hegemonia asfixiante deste tipo humano, em detrimento daquilo que Friederich Nietzsche chamou de Espírito Aristocrático. O Homo Normale tornou-se Povo e o Povo tornou-se deus – por muito menos, os gregos construíram uma mitologia que punia severamente, pela eternidade, aqueles que ousavam assemelhar-se aos olímpicos. O mesmo pensador já alertava sobre os perigos que esta idolatria moderna poderia acarretar, mas recebendo no rosto a cusparada furiosa da Tchandala, recolheu-se à insanidade – refúgio de todo solitário e de toda alma horrorizada.

Entretanto, de Otto von Bismarck à Solução Final foi um piscar de olhos. Atônita, a civilização ocidental, arrogante por ter alcançado o Éden da Ciência e as bênçãos do Capital, se deteve diante de seus mais pavorosos avanços: o Zyklon B e a Bomba Atômica, ou seja, a superprodução da morte – Eichmann e Einstein: nunca se cria um santo sem se criar seu demônio associado, porém o mal continua a ser uma questão entre quem venceu e quem foi derrotado.

Xamã moderno, despido de todo misticismo, o psicólogo é o único ainda a se interessar verdadeiramente pelo Homo Normale, pois o historiador, o sociólogo e o literato apenas usufruem, como parasitas, dos lucros resultantes de sua existência. E daí vem a nova piedade, a nova redenção – entre comprimidos e a maciez do divã – para aqueles que já não suportam mais a “luz tão clara” ou se entediaram dos tormentos da escuridão.

Agora, mais uma vez, soa como irrefutável a afirmação de que “o troglodita que tremia nas cavernas, hoje, treme nos arranha-céus” e é apavorante perceber que há apenas uma linha tênue entre o entorpecimento esotérico de nosso Terceiro Milênio – este Futuro que “não é mais como era antigamente” – e os Autos de Fé... ou os becos escuros de White Chapel.

Artur Marciano

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