Usina de Letras
Usina de Letras
72 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62255 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10375)

Erótico (13571)

Frases (50648)

Humor (20034)

Infantil (5444)

Infanto Juvenil (4775)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140813)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6200)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->CONVERSA COM UMA BONECA DE PANO II -- 09/10/2010 - 08:59 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tenho uma história para te contar. Aconteceu no meu tempo de adolescente, época em que a gente despertava para a vida. Emoções, aventuras... Tudo começou quando conheci Leonora. Eu tinha 16 anos; ela, dois anos a menos do que eu, mas sua sagacidade fazia com que se tornasse bem mais amadurecida. Era uma menina alegre e espirituosa, cuja beleza lembrava aquelas princesas dos contos de fadas. Começou a dar em cima de mim. Com seus olhos de malícia me provocava, e toda vez que passava por perto, beliscava minha bochecha. Eu tremia, meu corpo se arrepiava todo quando ela se aproximava de mim. Com Maíra era diferente. Eu gostava do seu sorriso. Achava sedutora sua boca sorrindo, seus dentes brancos e perfeitos me fascinavam, seus lábios vermelhos e carnudos me atraíam e eu sentia uma satisfação deliciosa ao vê-la. Porém, ao contrário de Leonora, eu não sentia arrepios, nem meu corpo estremecia diante dela.
Sem mais nem menos, comecei a namorar com Leonora. Ao admirar seu corpo moreno, seus pequenos seios rígidos e ofegantes, eu enlouquecia por dentro. Então, disfarçava e me despedia, inventando qualquer desculpa. Ela tentava me segurar, eu resistia e forçava a barra para me escapulir daquela situação constrangedora. A gente namorava às escondidas. Nossos pais não poderiam tomar conhecimento disso, pois, com certeza não haveriam de aprovar o namoro. Os encontros aconteciam na escola, na praça ou na igreja onde, apenas, nos olhávamos discretamente.
Em certa ocasião, minha mãe flagrou-nos quando Leonora espremia uma espinha no meu rosto, e ficou tiririca diante daquela intimidade entre nós dois. Repreendeu-nos severamente e enxotou Leonora, chamando-a de assanhada, imoral e outros palavrórios, enquanto ela, assustada, retirou-se imediatamente, sem ao menos se despedir. Em casa, minha mãe soltou os cachorros em cima de mim. Falou tantas coisas, que me deixou atordoado com seu interminável sermão.
Depois dessa bronca, passamos mais de um mês sem nos encontrarmos. Eu morria de saudade de Leonora. Um dia, porém, ela achegou-se e me perguntou se eu não gostava mais dela. Eu respondi com um tímido beijo em seu rosto, aí ela sorriu e pegou minha mão, provocando em mim mais uma vez, aquele arrepio e a revolução interior por dentro de minhas entranhas. Ela notou meu vexame, e ficou sem jeito, olhando de lado para verificar se alguém nos observava. Depois, começou a rir, apontando para o meu ponto fraco, e comentou com certa malícia: Deve ser muito bom. Por que a gente não pode fazer? Confesso que tive vontade de pular em cima dela ali mesmo e fazer sexo, amor ou o que quer que fosse, até saciar aquele desejo alarmante que me dominava. Apesar dos temores e precauções, nossa resistência arrefecia. Começamos a nos tocar com mais frenesi, e a cada dia, descobríamos novas e estonteantes sensações que nos transformavam em dois voluptuosos animais. Tínhamos medo, curiosidade e desejo ao mesmo tempo.
Tornamo-nos amantes. As pessoas mais próximas começaram a perceber que não éramos tão inocentes como parecíamos. Quando nos viam, ficavam o tempo todo a cochichar umas com as outras, e nos apontavam com risos irônicos.
Maíra distanciava-se cada vez mais de mim. Nem me sorria quando eu me aproximava dela. Um dia indaguei o motivo de sua indiferença, e ela respondeu-me com certa tristeza no olhar: Vá cuidar da sua amiguinha! Fiquei amargurado. Eu gostava muito de Maíra, e não queria perder a sua amizade, mas ela não quis mais saber de mim e me fechou o seu belo sorriso.
Eu e Leonora nos desejávamos cada vez mais. O tempo, porém, passou muito depressa, e a família dela, um belo dia, veio a descobrir que Leonora estava grávida. O tumulto foi geral. Mas, enfim, ela não queria casar nem assumir compromisso comigo.
Proibiram-na de sair e de me ver. Era o final de tudo. Ninguém na cidade tomou conhecimento desse fato. Levaram-na então para a casa de uns parentes distantes, e nunca mais tive notícias dela.
Comecei a ficar apreensivo e irritado. Eu sentia uma saudade dolorida dos afagos de Leonora.
Sonhava toda noite amando Leonora, beijando a boca de Leonora, correndo pelos campos de mãos dadas com Leonora. Quando acordava, só via quatro paredes indiferentes e frias, um quadro de uma mulher pintado não sei por quem, que olhava não sei para onde, que sorria um sorriso abobado que o artista imaginou. Mas nada havia em comum com o sorriso de Leonora. O pintor fez o seu quadro inspirado na sua musa. Eu, que não sabia pintar, não expus Leonora na tela e invejei sete mil vezes aquele dom do pintor.
Sem mais notícia de Leonora, resolvi então recompor minha vida. Esqueci até que Leonora existira.
Na escola, Maíra olhava-me e abaixava a vista. Olhava-me apenas de soslaio. Mas era um olhar misterioso, ardente e reservado. Você sabe mais do que eu, Vitória, como são as mulheres. O certo é que fiquei só, por muito tempo, vivendo apenas de recordações.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui