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Contos-->Rendição incondicional -- 27/09/2010 - 19:43 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rendição incondicional

Vuuuuuu... Vuuuuuu... Era o som do movimento da maca sobre rodas no rolar rápido pelos corredores do hospital. O negão (peço atenção às ONG e aos demais defensores - uso um tratamento afetuoso, ok?!), quase dois metros de altura, cabeleira rastafári com argolinhas coloridas, dirigia o “veículo” com perícia e velocidade, cantarolando o refrão da música “Reggae Night”, de Jimmy Cliff. As trancinhas balançando. Balançando no sacolejar do trajeto.
O coitado deitado, carregado aos trancos, era eu. Estava sendo levado para um exame um tanto quanto desagradável, usando palavra leve, pra não dizer uma bosta. Tratava-se da tal colono qualquer coisa; nem sei dizer o nome direito. O médico, “mui amigo”, indicou fazer:
- Na sua idade, com histórico de pólipo no reto, não se pode brincar - complementou ele profissionalmente.
Falei bem baixinho e com os meus botões: - raios! Não venha com estas palavras que lembram tragédia e envolvem partes “sensíveis” do corpo. Aonde vou me meter, sabe Deus? Tô lascado!
- O que me resta, doutor? Vamos marcar o exame – aceitei, embora já apavorado, pois fora dito que a anestesia seria a geral, com uma breve internação em hospital.
- Hoje em dia, o procedimento ganhou mais segurança, dando ao paciente conforto e garantia de todo o atendimento que se fizer necessário - acrescentou o médico.
Sendo assim, fazer o quê? Encaremos a desdita...
Ainda não revelei o estado no qual me encontrava a caminho do exame. Mandaram-me vestir aquela conhecida camisola azul e curta, colocada com a abertura para trás. Além de apavorante, porque quem a coloca dificilmente escapa de ficar pelo hospital mesmo, é extremamente constrangedora. Sabe o porquê do constrangimento? Respondo, sem graça: o buzanfan fica totalmente desguarnecido, ao léu, de verdade! A sensação é a pior possível. A pessoa está indo na direção, no bem falar, do patíbulo, para o que der e vier, sem interferência nenhuma sua, e, para completar, com aquela vestimenta ridícula, indecente. Para fechar o vexame, é posta uma touca de tecido fino na cabeça, igualmente ridícula. Parece aquela do Alberto Roberto da TV.
Bem, o condutor “aquele” embicou na direção do centro cirúrgico e, sem cerimônia, adentrou a sala abalroando as portas com força. Chegou, chegando!
Fui passado a uma enfermeira, que me recebeu com muita simpatia:
- Boa tarde, seu Alonso! Estávamos lhe esperando.
Eu devolvi o “boa tarde”, sim, mas daquele jeito, querendo sair correndo. A questão é que não me chamo Alonso. Meu nome é outro. Raciocinei rapidamente: o nome foi trocado, a intervenção, com certeza, será trocada! Vai ver que esse Alonso irá fazer um transplante de rim, o que não é o meu caso. Tô ferrado!
Consegui forças para me defender (de buzanfan de fora, veja a situação!): - Minha senhora, por favor, eu não me chamo Alonso e vou fazer uma colono qualquer coisa, entendeu? – disse isto como último recurso, já me borrando todo. Que sofrimento!
Aceitei o pedido de desculpas da moça pelo engano. Menos mal! Com calma, então, refeito, olhei em torno e vi umas quatro pessoas. Todas de verde, cobertas dos pés à cabeça, inclusive de máscaras. Um horror! Pareciam marcianos esperando o terráqueo aqui para experiências malignas.
A anestesista colocou o respirador no nariz e boca (estava parecendo um cachorro com focinheira) e catou o meu dedo médio para a intravenosa. A partir daí tentou conversar comigo, mas eu fiquei fora de combate rapidinho. Não vi e não senti mais nada. Estava completamente entregue, incondicionalmente rendido...
Mais tarde, ouvi o chamado, dessa feita pelo nome certo, e fui voltando a mim, recuperando a consciência. O médico autor do exame deu as boas novas de que tudo correra bem e que não havia pólipos a serem retirados nem examinados.
- Ufa! Desta me safei – refleti revigorado, satisfeito da vida.
Regressei ao quarto pelas mãos de outro cidadão que não o das trancinhas. Apenas, ocorreu um imprevisto. Passageiro. Ao firmar bem os olhos em recuperação de todo da anestesia, no interior do quarto, reparei que a acompanhante à minha espera era outra. Uma mulher ruiva, sardenta, gordona. Que teria acontecido? Eu não era eu? Ou ela não era ela? Confusão na área!
Para alívio, a minha companheira veio em meu ou em nosso socorro. Percebeu o erro no endereço e fez o resgate. Que bom!
Foi um equívoco à toa, bobagem...
Em seguida, fiquei livre da camisola indesejável. Liberado, finalmente, com a roupa de ser comum, contente pelo resultado favorável do exame, dei por encerrada a aventura.
Em outra ocasião, depois, farei o relato do preparo que antecedeu o exame. Foi coisa de louco! A noite anterior foi passada no trono, não de uma realeza, mas do meu banheiro. Por ora é só! Aguarde, no entanto...

Alfredo Domingos Faria da Costa

Obs.: o nome do exame é colonoscopia.


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