TIO JUCA
José Eurípedes de Oliveira Ramos
José Geraldo de Andrade, "Tio Juca", por afinidade. Casado com Emalda Figueiredo Andrade, era irmão de meu sogro (Waldomiro de Andrade); dona Emalda, irmã de minha sogra (Elza de Figueiredo Andrade), descendentes de antigas famílias de Patrocínio Paulista e de Santo Thomaz de Aquino.
Atuante na vida política, económica e social de Patrocínio, foi agricultor, fundador e dirigente de cooperativas, exerceu a vereança com os elevados ideais que alimentaram toda a sua vida. Culto, dedicado à leitura, marcou também como orador inspirado. Adorava ouvir e contar "causos", cultivando essa arte para alimentar o interesse e reavivar a memória histórica da cidade. De natureza afável, as narrativas primavam pelo bom-humor e leve ironia. Aliás, essa bossa, esse jeito especial de contar histórias é comum entre os patrocinenses, talvez por influência do ambiente familiar.
Mas não é de biografia que pretendo cuidar. Muito poderia dizer e sempre seria pouco para retratar uma parte da cativante e generosa personalidade do Tio Juca. Um pequeno caso ocorrido com ele, reflete apenas a afetuosa lembrança de alguém que, embora tão inteligente, alimentava a doçura da simplicidade; essa simplicidade que, Ã s vezes, o fazia distraído e distanciado dos avanços dos aparelhos eletrónicos.
Católico praticante, ex-seminarista, interessou-se por acompanhar a programação da Rede Vida de Televisão. Explicou ao técnico o que desejava e mandou instalar o equipamento necessário: parabólica e sintonizador. À noite, ele e dona Emalda sentam-se à frente da TV. Marizilda, que morava com os pais, sai para lecionar. Ao retornar, Tio Juca e dona Emalda continuavam no mesmo lugar, atentos, olhos refletindo o brilho da telinha, acompanhando leilão de tapetes orientais. Ainda no mesmo canal em que iniciaram seu lazer televisivo, pacientemente aguardando que chegasse a vez da exibição dos programas da Rede Vida...
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras
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