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Poesias-->CRIADORES E OUTROS POEMAS -- 16/12/2012 - 20:16 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


CRIADORES E OUTROS POEMAS ANTOLÓGICOS



 


POEMAS ANTOLÓGICOS


 


Francisco Miguel de Moura*






CRIADORES


 


1


 


A poesia está na entranha


entre prisões de pedras


duras magras frágeis


como um veio d’água


sem margem.


 


A fonte submersa


a força que tresmalha


a sintaxe que se aperta


– desafios do poeta


na ponta da noite


que ascende


    e apaga.


 


O poema se in/completa


vida no ver/so anverso


úmida do que nasce


rastro que se nega.


 


Eis seu mistério: estua


no átimo em que renasce


em flor de luz renovo


antítese explosão palavra/verbo...


    Sorve/douro.


 


 


 2


 


Sobre os cria/dores


de discursos e “afetos”


mora um deserto.


    (Leiam: palavras fofas,


    exercícios ocos...


    Pontes de artifício).


 


As perguntas que lhes fazemos


ficam


fora do seu eixo-limite.


 


Poucos se inquietam com questões


ou respostas malditas


como se escrever fosse escalar o céu...


 


Ganha-se o inferno


ao descer


ao (deles) inverno


frio corte


de corações supostamente aflitos


de almas sem suporte.


 


Poeta, escreve, apaga, escreve...


Ainda morto, teu verso é um grito.


 


3


 


Sejamos descrentes


e discretos. 


 


Nada responder aos que ignoram


os sofredores sem lamentos, ais;


e aos que calam e consentem


a compulsão atávica.


 


Que nossos ouvidos não ouçam


os que abrem a boca em festa


para consumir palmas.


 


Sobre os construtores de edifícios


(lá de cima vêem o chão longe


e o céu perto),


caiam-lhes perguntas sobre


o pesado ferro, o levitado e o leve.


 


Que deixem tudo escrito


longe dos ventos e das traças


placas, nomes, números


não são respostas


são decretos.


 


 


ESPERO-TE  ENCONTRAR


 


 


Espero-te encontrar difer-


ente/mente no futuro


da avenida


de minha próxima vida


sem marcas


nem patentes


 


teu sorriso em flor


vermelho e branco


descer de um corpo divino


sobre o meu medo de menino


 


 


TEMOS SÓ UM LIVRO...


 


 


temos só um livro de lembranças


puras


brancas


declinadas


 


amanhã seremos estranhos


e os nossos passos na estrada


solitários


 


nem um elo


fora destes versos


dispersos


entre dois mortos


e duas linhas apagadas.


 






VIDA FUNDIDA


 


 


Voltar a si, fundir-se


à imagem que se quer


de amada, mãe, mulher.


Mas como voltar ao veio


de onde veio e nada viu e nada vê?


 


Pintar-lhe a face ou deixar nua:


um sorrateiro riso, um olhar dúbio,


pêlos sobre os ombros em cascata,


caindo pelos seios pino a pino,


ora em trança até os pés,


correndo de uma face  a outra face...


 


Descerram-se as cortinas,


de joelhos beijar a oculta face 


onde os odores da carne sexual. 


Mijo e odor de fezes


de jovem que se ferve


de amor, na alma de prece.


 


Para entrar e sumir...


Como nasceu... morrer


do outro lado,


sem janela.


 


 


NÓS E AS NUVENS


 


 


Nuvens somos


como somos cromosssomos:


no parecer iguais: seu volúvel


de volumes e volutas


ou reentrâncias.


 


Mal nascemos, somos sonho, 


mal subtraímos já somamos.


Mal andados, já tropeços.


 


A vida chega cheia


de veias, consciente.


E já desaparece na noite,


à moita das águas subterrâneas


dos crânios ocos:


- Mal cheirosa, sulfurosa,


semi-séria, cemitéria...


 


As nuvens quando


em bando


se distraem


e se misturam com carbono


e com iodo, com matéria de cometa...


 


Nuvens já não somos.


 


 


MINHA PÁTRIA ESPERANÇA


     (Homenagem a Lêdo Ivo)


 


 


           


Sou órfão,


não tenho pátria aqui nem no distante,


perdi-a ao nascer.


 


O ventre de minha mãe


foi minha pátria.


O ventre de meu amor


foi minha pátria.


O ventre de minha esperança


espera por mim.


 


Não tenho pátria


e não tenho língua.


A morte não fala,


a morte não tem língua,


a vida é só esperança de não morrer.


 


Na morte perde-se a esperança


de língua, de pátria, de amor.


 


 


ENTRE O SIM E O NÃO


 


 


Que dizer ao morto


quando vive seu funeral?


E aos vivos que morrem


na noite funérea?


E aos corpos que pingam, ao copo


de pinga, aos pires que derramam café?


Abrir a boca ou calar em respeito


ao morto que está?


Com dor nos olhos fazer a força


do ar de  mistério?


Ou abraçar a viúva com seu suor,


seu preto noite, seu almíscar,


seu olhar tão sério?


E a desesperança orquestrada


pelo zumbido ido


de uma mosca, quase esgar?


E o cochicho de um mortal por entre grades


de um sorriso de espasmo?


 


E o choro rompendo a eternidade?


 


Ignorar a sisudez do morto


e seu silêncio fatal, quem há de?


 


 


NO ANALISTA


 


 


Desde os meus quinze arremesso


poemas: palavras de fogo


contra o frio.


Água contra a fúria.


Palavras se inscrevem no vento


caem no templo, computa/dor


 


E EU MELHOR SUPORTO


AS COISAS GASTAS


AS PALAVRAS VELHAS


AS AÇÕES...  –  NENHUMA!


 


Eis as luzes que se abrem


cá fora aos sonâmbulos e  sábios.


 


Bom que se fazem poemas!


 


Idéias morrem, o mundo morre


e nada se faz.


 


Assim, do nada eu vivo e me alegro:


tinta no papel, coração e coragem.


 


Um dia quem gostou de meus poemas


falará por mim.


 


 


O EU, O NÃO E O NÓS


  


 


No tato, o ato e  a densidade do chão.


O contr/ato é possível mas inútil,


o argentum isola, desconhece


veias


estômagos


vazios


brinquedo e paixão.


 


O desengano não é ledo, chora


o outro –  segredo


de não-eu, de alienação,


o tudo que não é verme,


o mundo que sem ganhar se


perde.


 


Uma rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma ro...


Uma rocha, é uma pedra,


uma pedra é uma


uma perda


una.


Maria e João nunca  se  amam  nem se casam,


e,  ralando, e rolando, se amassam e  se  massam...


Enganam-se.


 


Mas o tato é possível por Deus,


enquanto o Demo se esfrega


enquanto os dois não coçam o olho e o ânus.


 


Quem finalmente terá compaixão?


 


Que cem vezes cem se repitam


o ato, o tato, o contrato e o costume do nós.


 


 


O RETRATO


 


           


Pássaro empalhado


na sala de visitas,


seca a luz


no humus da face,


mostra um tempo descarnado


e sem mãos.


   


Empanou-se-lhe o brilho dos olhos


e a eletricidade dos fios


de cabelo, da pele, dos lábios.


   


Mesmo com um  riso bucal,


falta lhe sal, sal, sal...


 


Sente fome


de tudo, sente sede,


e se consome,


vira mito – o retrato, na parede,


morto


e a morrer.


   


 


 


A ÚLTIMA VIAGEM


 


 


Quando eu me for embora


não voltarei à terra.


 


Não deixarei saudades.


Os amores todos morrem


quando a gente se enterra.


 


Não vou errar o caminho


que dá no grande infinito.


Se alguém quiser seguir-me


basta um sussuro


em vez de grito.


Talvez o último, talvez,


pois lá o silêncio é voz


e a natureza é o nada.


E Deus estará em nós


a derradeira vez.


 


 


TRES/PASSADO


 


 


Não lhe contarei minha história,


a da vaquinha morta,


e não me deu o leite da vida:


urubus pastaram seus olhos.


E pastarão sobre mim.


 


Nem a história de mamãe-titia,


de meu pai-pequeno-e-feio,


de meu nascer Chico


por simples fuxico.


Não houve melhor jeito.


 


Depois, morremos de comer, de beber:


– o sono inanição era todo nosso.


E o medo do outro (e de nós)?


E os desejos menos preciosos


que morriam?


 


O mundo antes de mim,


do alto do descaso,


jogou-me na grande roleta.


E bicho permaneço.


 


Não me deram nem carne nem osso,


nem cabeça – mundo deus, mundo diabo.


Deram-me tripa


             muita tripa


                  e coração.


 


Assim subvivi para este mundo


     entre as aves de rapina


     e frutos escassos,


     cactos, espinhos, trapos,


despetalando a vida


            que


                não


                    quis.


 


 


EU SEI QUE VOU FICANDO


 


 


Aos cinqüenta bebidos me apeteço


porque a vida floresce-me de espinhos,


flores poucas, encantos mitigados.


E em todo passo a busca de sentidos.


 


Feliz por ser  fidel no que me arrimo:


- São secretas conquistas muito humanas.


Sorrio ao que me passa e vai no vento:


- Eu sou vagar, sou tempo e não me canso.


 


Meu corpo alcança o corpo mais cansado,


minha alma inflama a irmã insubmissa,


sem barulhar a paz que me guerreia.


 


Semeio amor. Na dúvida campeio


O que me arma de força e decisão.


E  vou seguindo. E sei que vou ficando...


 


 


_________________________________


 


*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, autor de 32 livros individualmente e cerca de outros tantos em participação com outros autores, inclusive fora do Brasil: Estados Unidos, França, Espanha, Portugal e Itália.
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