Nos idos dos anos setenta, o regime militar operava ostensivamente no país. Os suspeitos de subversão eram apreendidos sem qualquer protocolo. No Rio de Janeiro, era época de carnaval. Celso estava fixado em comparecer nos bailes que se realizavam,seriam três finais. Buscava uma maneira de ludibriar sua mulher, que naturalmente o impediria de comparecer. Somente quem conhece a cultura carioca sabe avaliar a ànsia que se incorpora em alguns deles em festejar. Celso tinha um grande amigo comandante de uma unidade militar situada na Tijuca e com sua ajuda traçou um plano. Na sexta- feira à tarde estava no bar que habituava comparecer no final do expediente, na companhia de amigos. Nisso chegaram dois homens junto da mesa e o seguraram sem nada dizer levando-o de arrasto para o interior de um automóvel opala preto sem placas, estacionado sobre o meio-fio da calçada. Ele, para ser ouvido pelos amigos berrava dizendo:
- Socorro, estão me sequestrando.
Assim foi levado, deixando os companheiros atónitos e a esposa de Celso foi avisada. Pelas características dos sequestradores e do carro, indicava tratarem-se de militares do DOI/CODI, atuante na época.
Ao chegar ao quartel, obviamente foi liberado e agradeceu ao amigo Coronel pelo favor que lhe prestara. Foram três dias sumido, durante os quais se esbaldou bebeu e foi aos bailes livremente. Na segunda-feira com a roupa lanhada, cara de cansaço por causa da ressaca, chegou em casa antes do horário do final do expediente, encontrando a esposa aflita. Aplacou-lhe a preocupação dizendo:
- Fiquei aprisionado três dias e sofri intensos interrogatórios, sorte minha que não me torturaram. Hoje pela manhã me liberaram desculpando-se por sido um engano, me confundiram com um subversivo procurado.
Deitou-se e só levantou-se dois dias depois.