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cronicas-->DISLEXIA COMPENSADA -- 04/09/2006 - 15:33 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DISLEXIA COMPENSADA

Délcio Vieira Salomon


Lá vai ele ao dicionário consultar se é largata ou lagarta. Tem consciência de sua própria dislexia. Frequentemente troca escorraçar por escorrachar (talvez influenciado pelo verbo escorchar). Calombo por calango (ao designar pequena tumefação cutànea no pescoço, provocada por uma alergia crónica). Saibro por sábrio. Outro dia, pouco antes de enviar artigo para o jornal, à última hora, teve de trocar, no texto, a palavra melània por melena, com que queria designar os cabelos densos, extensos e negros da personagem de sua crónica. Fala com tranquilidade reboque da parede em vez de reboco da parede. Mais de uma vez usou em público predigistador em lugar de prestigitador. Apuncultura por Acupuntura. Estrupo por estupro. Tutra por truta.

Curioso é que quase não erra, quando escreve. Ocasião, em que frequentemente passa do papel de autor de suas dislexias para o de vítima da falta de atenção alheia. Por preocupar-se em escrever correto, num de seus textos para certa revista meta-acadêmica, encontrou esta pérola, ao referir-se a determinado articulista: "digno de um prestigiado intelectual, que consegue se equilibrar na corda bamba...", provocada pelo revisor, quando na verdade deixou escrito no original: "digno de um prestigitador intelectual, que consegue se equilibrar na corda bamba entre a objetividade e a subjetividade, entre a crítica à instituição e à pessoa responsável por ela".

Consolo pequeno, mas compensador, por saber que há também revisores com dislexia, se não de fala, ao menos de leitura. E lembrou-se da "História do cerco de Lisboa" de Saramago, quando o revisor Raimundo Silva, acrescentou um "não" antes da principal afirmação do historiador sobre os cruzados terem atendido ao apelo dos bravos portugueses para os ajudar, na resistência ao cerco que os mouros fizeram à cidade, mudando totalmente a tese do autor. Não se tratava de dislexia, nem talvez de safadeza intelectual. Provavelmente de patriotismo exacerbado,cujo resultado negativo equivale ao do intruso em seara alheia.
E riu dos equívocos que marcam o convívio dos mortais.

Um dia foi falar sanefas do cortinado.Proferiu para todos os comensais sentados na sala-de-visitas ouvirem assustados: as safenas da cortina.

Por ser safenado, quase todas as vezes que entra na farmácia para comprar seu remédio contra colesterol, pede Caprolvac. E só depois do espanto da balconista é que toma tino de que é disléxico, e se corrige: - desculpe-me, eu quero é Pravacol.

Mas, reincidente, acrescenta: - me dá também uma caixa de Tanak, ou melhor, o seu genérico, o tal de Cloridato de Ratinidina. Traduz-se: Antak, ou melhor, o seu genérico, o tal de Cloridrato de Ranitidina.

Resigna-se, ao lembrar que sua dislexia é hereditária. Seu irmão trocava quase constantemente as palavras. Dizia mecidina em vez de medicina. Sutaca em lugar de sucata. E frequentemente os ouvintes, por ignorància ou condescendência, davam ar de admiração diante de seu inusitado vocabulário. Provavelmente para muitos daqueles interlocutores, tratava-se de homem culto, a ponto de os confundir!

*

Dicionário sobre as pernas, lá está ele a consultar se é largata ou lagarta. E leva quase trinta minutos com o livro aberto.

Já leu lagalhé e achou graça, pois significa joão-ninguém.

Ficou sabendo que lagamal é, ao mesmo tempo, trecho de rio, onde as águas se remansam por ocasião das enchentes e clareira espaçosa entre mangues.

Lagamar não é verbo, é substantivo e tem quatro significados: 1- cova no fundo do mar ou do rio, o mesmo que pego; 2 - baía ou golfo abrigado no interior de um rio ou de uma enseada; variante: algamar; 3 - lagoa de água salgada; 4 - inundação pluvial pelas margens dos rios (empregado em Minas Gerais).

Gostou de saber que lagarada é porção de uvas que se lança de cada vez no lagar. E é também o resultado da própria lagarada.

Curioso é o que acaba de ler: lagão - nome de embarcação asiática.

Logo em seguida: lágaro - hexàmetro em que figura uma sílaba breve em vez de longa. No inicio pensou ser hexàmetro termo de geometria, mas logo se situou, lembrando tratar-se de verso latino. Até atingir o cume da associação levou uns cinco minutos.

De repente dá-lhe o estalo. E se dá conta: - Ah! Escreve-se lagarta e não largata. Aqui está.












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