Penso, em princípio, que é erro
se brincar com coisa séria:
Tragédia da Hemodiálise
não deve virar pilhéria,
que assim tudo na Justiça
será levado na léria.
Refiro-me ao promotor
que é boêmio e verseja
e fez o seu feito em verso,
tomando alguma cerveja,
embora o leitor não saiba
o que disse da peleja.
O doutor Gilberto Marques,
no artigo sobre esse assunto,
pôs a réplica do Juiz
que a esta introdução junto.
- E o feito do promotor
falando sobre defunto?
Aí vai para os leitores
o poema do Magistrado,
que é uma peça literária,
pois, nela foi aprumado,
e, no seu senso de humor,
falou do quase embriagado.
"Não critico a poesia,
pois, o sentir, verso ou rima,
fica bem em qualquer parte,
mesmo sendo pantomima;
tendo alguma melodia,
não se deve criticar!
Quando fala em carpideira,
tem certa propriedade:
- muita lágriam rolou
sem traudzir piedade,
de gente atrás de carreira
que invadiu a cidade.
Disse bem das águas turvas
que não tiveram atenção
dos poderes constituídos
do Estado ou desta Nação,
deixando a microcystina
florescer em profusão
pra invadir as torneiras,
os canos, o caminhão.
É fato que a toxina
nascida de uma bactéria
engabela todo mundo
que pensa ser água séria.
Não pegou o promotor,
que de água pouco entendia:
- é que o líquido sagrado
ele pouco consumia!
Por isso o ilustre doutor
de água nada sabia.
Sabendo de antemão,
por ser pessoa letrada,
que água pra ser potável
tem que ser apresentada
sem cheiro, sem gosto e cor
- e disso sabe o doutor.
É que na água brasileira
sobrevive triste ária,
não tem só microcystina,
dengue, cólera e málaria,
xistosoma, amema e giárdia,
que correm pelo intestino
e mata homem, mulher,
velho, criança, menina,
e moço, moça e rapaz,
só não mata autoridade
que só usa coisa fina
e não luta pela paz.
O promotor todo prosa,
em seus versos bem rimados,
esqueceu que pra Justiça
poder ficar do seu lado
é preciso parcimônia
e mostrar-se equilibrado."
Texto inspitado/transcrito do artigo com o título acima, publicado pelo Dr. Gilberto Marques, no Diário de Pernambuco, 27.03.02, pág.A3.
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