Revolta *
Consumo a vida nesta idiferença
Que me arrasta nas sendas do destino;
Que me leva, num louco desatino,
Nos erros a incidir de quem não pensa.
O infortúnio roubou-me a doce crença
Do amor, deixou-me triste e peregrino;
Levou os lindos tempos de menino
E pôs-me na alma tão mortal descrença.
Não creio mais no mundo. A humanidade
É falsa, e disso tanto me envergonho.
Tenho por ela, em vez de ódio, piedade.
A viver no desdém mais me proponho;
Porque, em resumo, tudo é nulidade,
E em mim já não há mais sequer um sonho!
* "A voz da poesia", MPN, ano XXXV, São Paulo, julho a setembo de 2012, nº 98, p. 4; "Magia", Campinas (SP): Editora Komedi, 2006, p. 82. |