Olha de novo dentro dos meus olhos de cor, mas desta vez mergulhando mais profundo que seus limites lhe impõem a cada vez que você tenta ultrapassá-los. E, por favor, mantenha-os abertos. Eles não irão arder, eu prometo. E enxergue que eu tenho tanto mar. E descubra no meu azul o lugar que desejar descobrir. Olha aqui dentro. Só mais uma vez...porque tenho essa sede de não engolir um não como resposta. Tenta sentir que seu corpo ainda molha, que seus olhos ainda alagam, que sua boca ainda saliva e que algo ainda sacia essa secura amarga na sua goela.
Depois disso, inventa que ainda há algo ventando dentro do seu suposto vazio. Não aceito o vácuo. Não aceito que você vá assim. Deixa eu lhe mostrar que ainda há algo que não foi inventado. Deixa minha boca sorrir acreditando que a cada sorriso dado, novas reações desencadeiem por dentro de você. Vertendo o breu em fagulhas brilhantes, a fome de fé em um grão de esperança, o choro entalado em pranto acolhido, o oco em cheio, o olhar vazio no enxergar delirante, a fartura de cinzas em um grande arco íris de contos de fadas.
Esqueça o desarrimo das avenidas da vida e, por fim, olha pela última vez, mas agora pra minha boca balbuciante e me beija falando mudamente que há sangue ainda correndo pelas veias do seu corpo desnudo. E inunde-se toda vez que a maré ameaçar o recuo...
Mariana Antonelli 25/04/2003 (pra J.P, de coração)
*DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS*