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Poesias-->O ladrão e o político -- 09/07/2012 - 16:23 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O LADRÃO E O POLÍTICO



 



José Augusto



 



Eu cresci numa família



Que dizia todo dia:



– Pode andar remendado,



Contudo nunca podia



Andar sujo pelos cantos



Essa era a filosofia.



 



E também dizia que:



– Tem um sujo que não sai



Nem com água com sabão,



Quarando dias não vai



Ser limpo nem esquecido



É o roubo, disse papai.



 



Disso nunca esqueci.



Como me lembro também



De Tio Chico Cachico



Que era pra nós armazém



De história pra contar



Da terra, céu e além.



 



Pois Tio Chico Cachico



Era um homem tranqüilo



Nunca se preocupava



Nem com isso, nem com aquilo



E vivia viajando,



Assim posso defini-lo.



 



Uma noite ele contou



Depois do nosso jantar



Pra gente uma história



Que ouviu alguém contar



Dum ladrão e dum político



Das terras do além-mar.



 



Na capital dessa terra



Ele disse que existia



Muitos ladrões, traficantes



De toda categoria,



Mentirosos, enganadores



Em todo ponto se via.



 



Mas lá tinha um ladrão



Muito rico, poderoso,



Temido na capital,



Respeitado, rigoroso;



Quando algo dava errado



Ficava mais perigoso.



 



Ele um dia recebeu,



Uma visita surpresa



Do prefeito do lugar



Que estava na redondeza.



Querendo falar com ele



Foi à sua fortaleza.



 



– Muito bom dia nobreza



Falou o prefeito dando



Um abraço e um presente



E a mão dele apertando:



– Eu estou muito feliz



Por estarmos celebrando...



 



Esse encontro que será



Muito mais do que perfeito,



Louvável, satisfatório



Como se ganha respeito



Desse amigo que está aqui



Bem guardado no meu peito.



 



O ladrão desconfiado



Perguntou: – O que deseja?



Com esse discurso belo,



Me diga logo o que almeja,



Deixe de tanto arrodeio



Porque não sou de peleja.



 



Disse o prefeito: – Pois bem!



Estou em vossa presença



Pra solicitar apoio



De sua vontade imensa,



Um pouco de capital,



Essa é só minha pretensa.



 



Assim respondeu o ladrão:



– Eu não sou homem sabido



Do colégio fui expulso



Das letras sou um fugido,



Mas sei muito bem quem é



Ladrão, igual a mim, fingido.



 



Vou dar o que está pedindo,



Porém com uma condição:



Que você me ensine a ser



Político dessa nação.



Respondeu o prefeito: – Claro!



Veja a primeira lição!



 



Sempre, sempre diga sim.



Nunca diga “não” a alguém,



O que tem se ofereça,



Até mesmo o que não tem,



Sem poder fazer prometa,



Isso é o que nos mantém.



 



Faça discurso bonito,



Diga que ama sem amar,



Coma qualquer porcaria,



Dê com a mão sem precisar,



E sem ter graça ria...



Somente para enganar.



 



Nunca perca um só contato,



Mande santos-calendário



Desejando boas festas.



Não perca um funerário,



Sem nenhum esforço chore



Fingindo ser solidário.



 



À família dos defuntos



Dê um brilhoso caixão,



Um ramalhete de rosas,



Aperto de mão em mão,



Diga que vá procurá-lo



Pra comer de seu pirão.



 



Dê um remédio pra quem



Não tem mais nenhuma cura.



Cesta básica de arroz,



Sal, farinha e rapadura.



Litros de leite de soja



E doses de cana pura.



 



Pague pinga pra pinguço,



Decore o nome do povo,



Abrace abraço fedido,



Dê cheiro em menino novo



Diga que passou o dia



Andando só com um ovo.



 



Tenha uma legião



De babões pra defender,



Divulgar tudo que faça,



Mesmo sem verdade ser.



Mas sabe como é babão,



Gritem eles sem dever.



 



Faça mistério de tudo,



E diga que é atacado



Pelo seu adversário



Que não passa dum safado.



Esconda-se do povão



Depois dele ter votado.



 



Eu sem bater a pestana



Disse: – É mesmo que estar vendo



Todos os políticos daqui.



Mas Tio Chico fazendo



Um gesto co’a sua boca



Não pára a prosa dizendo:



 



– E depois de sete meses



De ensino-aprendizagem



O ladrão decide ser



Parte dessa plumagem:



Que a gente empurra, empurra...



Sem ver nenhuma vantagem.



 



E disse para o prefeito:



– Eu quero participar



Da divisão do dinheiro,



Muito fácil de pegar,



Sem utilizar revólver



Só papel para assinar.



 



Assessores indicados



Eu quero ter mais de cem,



Pra ir ao fundo do cofre



E buscar todo vintém.



Desviar verbas de tudo



E o povo dizer amém...



 



Candidata-se o ladrão



A deputado local.



Gasta muito do que tem



Como fosse um vendaval



Dando a torto e a direito



Metade do capital.



 



No final não se elegeu



Ficando irado, raivoso,



Se perguntando: – por que



Não fui eleito fogoso?



E pediu satisfação



Ao prefeito desgostoso.



 



E disse: – Passei um ano



Gastando e lição tendo,



Observando seus passos,



Discursos belos fazendo.



Andando pela nação



E milagre prometendo.



 



Por que eu não fui eleito



Um deputado vigente?



O prefeito respondeu:



– Eu dei matéria somente



Para você ser político



Não eleito pela gente.



 



Além do mais você é



Lido e visto nos jornais



Como ladrão da nação,



Traficante, capataz.



É do mal embaixador



E perseguidor da paz.



 



O ladrão disse tremendo:



– Que diacho está falando?!



Sabe você, sei também,



Que de mim está zombando,



Sendo você ladrão fino



Que do povo vem roubando.



 



Pois entre você e eu



Há bastante diferença:



Eu só roubei dos ricaços,



Empresários de nascença



Que explora o trabalhador,



Nenhum atraso dispensa.



 



Se matei foi por descuido,



Você mata todo dia,



Quando tira verbas públicas



Da base da moradia,



Quando tira o giz do quadro



Deixando o saber sem valia.



 



Você mata quando tira



O direito de curar



A doença de seu povo,



Vendo na fila minguar



A nação de ponta a ponta



Morrendo em todo lugar.



 



Quando cria leis capengas



Causadoras de injustiça,



Que tira de quem não deve



E dá pra quem reza a missa



Do catecismo do crime,



Inda diz que faz justiça.



 



Eu sei, sou um grande mal.



Mas o que furto é a sobra,



Da sobra de sua mesa.



E vocês numa manobra,



Deixa milhares famintos



Sem fé, esperança e obra.



 



De tudo cria imposto



Dizendo ser para o bem



Da saúde, educação



E segurança também.



Mas que dinheiro sabido!



Ninguém não vê nem por cem.



 



Quando tio Chico acabou



De contar essa história



Falei sem papa na língua



O que estava na memória:



– São os governantes daqui



Que faz a gente de escória.



 



E naquela época eu



Só dizia: – Conte mais...



Hoje vejo e me pergunto:



Quem é que tem mais cartaz?



O cidadão que é roubado,



Ou os políticos de Estado



Que pouco faz pela paz.

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