CÃO DEMÓNIO
José Eurípedes de Oliveira Ramos
É ilusão a crença de que reina tranquilidade nos condomínios. Aliás, a legislação só admite a "propriedade condominial verticalizada". Nos prédios, portanto. Os loteamentos fechados de terrenos ou chácaras, apelidados "condomínios" não têm amparo na legislação. Vai daí que a bagunça se instala. Uns colaboram e pagam as despesas comuns: portaria, segurança, limpeza dos terrenos vagos, varrição das ruas, etc. Outros, "caras de pau", somente desfrutam: em nada contribuem e estão entre alguns dos piores vizinhos. A começar pelos cães --cães demónios--: soltos e agredindo pessoas, latindo dia e noite sem o menor controle dos surdos proprietários. A seguir, pelas crianças e adolescentes "criados" com toda a liberdade de disparar aquilo que chamam música, infernizando toda a vizinhança num raio de até 100m. Outra espécie demoníaca, além do abuso de equipamento sonoro, projetam o berreiro de vozes histéricas, estridentes como prego riscando folha de vidro, incessantemente e sem nenhum propósito.
Quem não pediu aos céus uma chuva de raios na casa do vizinho que tem na sala um "sãum zão" e se delicia com os 140 decibéis de seu aparelho, sem nada de civilidade, educação, respeito? Quem, igualmente, não pediu um torpedo sobre as cabecinhas "adoráveis" daqueles que, além do "sãum", têm nos fundos uma piscina, transformada em clube de garotos em delírio que treinam para chefes de torcidas no Maracanã ou no Pacaembu, pelo que demonstra o alcance sonoro de seus incansáveis pulmões de aço.
Enfim, condomínio é "cão demónio" e o regulamento nada vale. Mesmo para aqueles -o que é grave-- têm o dever profissional de zelar pelo sossego público: respeito à s leis de silêncio é simplesmente ignorado pela arrogància do grosseiro "vizinhante cão demónio". Desconfiómetro ausente, civilidade, educação, respeito inexiste por parte do efluente "chefe da família" e de sua "consorte", dedicados mais à s festinhas barulhentas --buscando, talvez, fuga pelo álcool--, nem tanto interessados em filhos, vizinhos ou o mundo.
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras
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