Ainda menino, falava com pássaros e borboletas. Deitado sobre a relva, deixava-se transportar em sonhos. Com as sereias, cavalgava nas cristas impetuosas das ondas.
Flutuava, vagueando na imensidão do espaço azul. Nas noites, contemplava as estrelas e as escutava. Sob a luminosidade inebriava-se, coberto pela renda prateada do luar. Buscava a configuração de um rosto desconhecido de uma mulher especial que sabia existir. O menino era poeta e não sabia, tudo no mundo lhe pertencia.
Nos retalhos dos dias compunha versos, via-se atingindo o horizonte - onde o céu amalgama-se ao mar. Deixava-se embalar nas canções, seu coração era um jardim repleto de flores.
Enxergava condores imaginários flanando sobre cordilheiras. Nas garças migratórias riscando de branco o azul do céu, via nuvens que se esgaçavam, levadas pelo vento transformadas em brisa, espargindo aromas nas manhãs.
Cresceu, escolheu e foi escolhido. Amou e foi correspondido. Brincou com o tempo, atribuindo-o infindo. Não percebeu a mocidade partir, seu cabelo tingiu-se de prata, num instante envelheceu.
O tempo enrugou suas mãos. As mesmas mãos que percorreram, com a suavidade de uma pluma, corpos de pele aveludada, acarinhando lindas mulheres. Entrelaçadas, alimentaram sonhos, despertaram paixões e delírios. Seus lábios sorveram frutos agridoces nos relevos. Ocultou-se entremeio da relva perene, conheceu o centro do universo e extasiou-se sussurrante.
Transitou nos meandros das noites, foi dono da vida. Gravitou nas estrelas e colheu pingentes dourados. Hoje, maduro, vive liberto do medo.
Através das janelas de sua casa, resplandece a luz, envolvida pelo som de um violino, que rompe as madrugadas até o alvorecer.
Ele prossegue sua busca.
Poucos o conhecem, não sabem se é alegre ou triste; Se é sóbrio, maluco ou divino. Tampouco, sabem se ele realmente existe...
Odilon Fehlauer
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