Sim você já viu essa frase em algum lugar antes, foi numa canção do Lulu Santos chamada “Como uma onda” que versava mais ou menos assim:
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu a um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Lulu fez essa canção juntamente com Nelson Motta um grande jornalista e um letrista de primeira que fez músicas com Djavan(de quem sou grande fã), Caymmi, Guilherme Arantes, Rita Lee e ainda foi casado com Marisa Monte, enfim isso tudo denota que ele é um homem de muita inspiração.
Pois bem, essa frase na verdade é um dos postulados do filósofo grego Heráclito, do vir a ser e que afirmava que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, pois, na segunda vez, ele já não será o mesmo, uma vez que aquela água já se foi, e esta é outra, tudo muda e está em constante mudança.
Heráclito foi realmente alguém muito fascinante, veja você que há 25 séculos atrás ele falava da teoria dos opostos que apesar de ser antagônicos e contrários se completam.
Uma estrada tem uma subida e uma descida. E continua sendo uma estrada só, e não duas. Se alguém diz que o copo de água está meio vazio, enquanto outro afirma que o copo está meio cheio, estão falando sobre o mesmo copo, e não sobre dois. É o mesmo, mas há opiniões opostas a seu respeito. Essas opiniões não são contraditórias, mas complementares, pois o copo está na verdade, meio cheio e meio vazio. O que Heráclito queria dizer com isso é que as contradições são naturais e nem sequer devemos lutar contra elas, e sim aceitá-las. Quando tratamos de eliminar a contradição, estamos, em verdade, tentando eliminar a própria realidade.
Vamos mais fundo.
Maya é uma divindade hindu que com o seu véu, encobre a Realidade. Os devotos de Buda sabem que sua mãe era a Rainha Maya, mulher do Rei Sudhoddana, do Nepal .O seu nome significa, entre outras coisas, Ilusão. Segundo a tradição vedanta, o nosso universo visível é caracterizado pela impermanência. Tudo passa, tudo sempre passará.
A filosofia hindu através de uma mensagem cifrada, não muito diferente da cristã onde as mensagens na bíblia também são cifradas e o próprio Jesus Cristo falava em parábolas, fala sobre a necessidade de vermos o nosso universo não como realidade última, mas como mais uma delas que é efêmera e apenas temporária.
Uma reflexão que tiro de tudo isso é que não devemos nos valer só das nossas capacidades sensoriais para perceber a realidade, é preciso refletir sobre os personagens que a vida vai nos apresentando a medida em que ela vai se descortinando a nossa frente e deixando seu rastro em nós, não devemos nos contentar com as respostas que são obvias, devemos ir cada vez mais fundo, escrever nossas próprias leis e como diz um ditado: existem três maneiras de se fazer uma coisa: a certa, a errada e a minha...
Os véus de Maya vão sendo erguidos na medida em que tomamos consciência que eles existem, quando nos damos conta que a vida é efêmera e nada se leva dela a não ser as experiências vividas e nem todo dinheiro do mundo te garantirá a imortalidade, saber o dia da morte ou se ela será sem dor.
Os véus de Maya estão caindo, porque agora você já sabe que a vida não terá sentindo somente através da obtenção de bens materiais de ultima geração, mas com a compreensão de que eles são apenas meios para fins mais profundos e para a conquista de valores intangíveis, invisíveis e que não estão em exposição em vitrines ou a venda em lojas.
Valores estes que nos definem como pessoas que sabem o que são e reconhecem sua identidade sem precisar de espelhos, pessoas que são medidas pelo que sabem e não pelo que possuem e pela sua capacidade de amar o próximo, pessoas que estão preocupadas em contribuir de alguma forma para o desenvolvimento da humanidade.
Nosso maior patrimônio são as nossas experiências e nossos maiores bens são aqueles que ninguém pode ver, está debaixo de nossa pele, impregnados em nossa alma, os únicos que se houverem outras vidas levaremos adiante.
E como diria o homem de Nazaré, aqueles bens que a traça não come e a ferrugem não corrói, muito, muito além do que convencionou-se chamar, pelas aparências, de realidade.
Tudo passa, tudo sempre passará.