SOLIDÃO NO BAR
Solidão, não te mereço,
pois que te cosumo em vão.
Sabendo-te embora o preço.
Calco teu ouro no chão .
(Carlos Drummond de Andrade – Desperdício - em Viola de
bolso)
Vazio está o bar.
Em sua solidão
nem um par.
Apenas um velho
ali está
a beber
e a meditar.
Em sua cabeça,
como em asas de um condor,
o tempo passa
mais veloz
que no exterior.
No écran da memória,
infância – travessuras
adolescência – aventuras
juventude – sonhos
amores, paixões
quarentanos –compromissos e desventuras.
Tudo surge conglomeradamente
- raio a rasgar o manto da noite.
Lembranças - o que de ontem lhe restou.
Hoje – a solidão, a saudade:
a presença da ausência
a assumir seu lugar
para tudo ofuscar.
Parece triste.
Só parece.
Sei que não está.
Fortuita lágrima
- prenúncio misto
de contrastantes sentimentos embutidos –
escorre pelo sulco
rasgado pelo cinzel da vida
na face enrugada.
É a gota que faz
o deserto das ilusões
florescer
e reflorescer
em brotos de esperança.
Sorri.
Sem ninguém notar se retira
medindo passo a passo
a distância
entre o que foi
e o que será.
Ao contrário
da vã filosofia,
a idade da solidão,
como cantava o poeta,
ainda que não a mereça,
(pensa com seus botões)
é a melhor da vida.
|